14 julho 2006

Prêmio Jabuti contemporâneo

Ótima a questão lançada por Marcelino Freire em seu blog ontem: "mudamos nós ou mudou o Jabuti?". Aí está uma coisa que me inquieta: um prêmio tradicional como o Jabuti incluindo autores novos e corajosos como o próprio Marcelino, o Mirisola e a Ivana Arruda Leite (esta sequer publica por editora grande). Isso sem falar no fato de se tratarem de escritores que experimentam bem linguagens, formas e valores e que, talvez por isso mesmo, são muito questionados ou rechaçados pela crítica jornalística. Em todo caso, nomes já consagrados são a maioria e Companhia das Letras, Record e Rocco, consideradas as três maiores editoras do país atualmente, dominam a lista. Enquanto lemos os nomes dos finalistas abaixo, deixemos a pergunta martelando na cabeça.

Categoria Romance
Cinzas do norte, de Milton Hatoum (Companhia das Letras)

Mandrake, a bíblia e a bengala, de Rubem Fonseca (Companhia das Letras)
Na noite do ventre, o Diamante, de Moacyr Scliar (Objetiva)
Menino oculto, de Godofredo de Oliveira Neto (Record)
Olho de rei, de Edgard Telles Ribeiro (Record)
Meninos no poder, de Domingos Pellegrini (Record)
Joana a contragosto, de Marcelo Mirisola (Record)
Magnólia - romance em 100 fatos e um võo de inseto - trilogia íntima, de Marcia Tiburi (Bertrand Brasil)
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino (Companhia das Letras)
Bandeira negra, amor, de Fernando Molica (Objetiva)

Categoria Contos
Contos negreiros, Marcelino Freire (Record)

Histórias mal contadas, Silviano Santiago (Rocco)
A milésima segunda noite, Fausto Wolff (Bertrand Brasil)
Discurso sobre o capim, Luiz Schwarcz (Companhia das Letras)
23 histórias de um viajante, Marina Colasanti (Global Editora)"Orgias", Luis Fernando Veríssimo (Objetiva)
A hora extrema, Mário Araújo (Editora 7 Letras)
História universal da angústia, Waldemar José Solha (Bertrand Brasil)
Ao homem que não me quis, Ivana Arruda Leite (Agir)
Homens com mulheres, Bernardo Ajzenberg (Rocco)

Literatura de risco

A discussão sobre O paraíso é bem bacana (Cia. das Letras), de André Sant'Anna, ocorrida ontem na UnB, foi acalorada. Houve um estranhamento do grupo diante de um livro tão grande (450 páginas), tão fragmentado e que ressalta uma estética crua, realista, nojenta. Em resumo, alguns não gostaram do livro. Acerca disso, o próprio Sant'Anna comentou "acho que, em literatura, a gente deve correr alguns riscos. Corri os meus". A idéia do autor é mesmo causar esse estranhamento. "Quis causar isso nos leitores, passar o nojo e o tédio que sinto em relação a sexualidade 'liberada' que as pessoas vivem hoje em dia", disse. E esse é o grande lance do livro: os efeitos colaterais, dolorosos, os incômodos, os enjôos que causa. Um texto que mexe, movimenta, inquieta e que, por isso mesmo, às vezes não agrada. Bons momentos: a leitura e a discussão.

Livro sobre Cassiano Nunes

Maria de Jesus Evangelista lança, no próximo dia 26, o livro Cassiano Nunes: poesia e arte (Editora UnB). Por ocasião de seu aniversário de 84 anos, no ano passado, a Biblioteca Central da UnB preparou uma exposição de livros, cartas e documentos. Na ocasião, a autora, que é professora da universidade e que teve Nunes como orientador de mestrado, declarou que o poeta representa duas coisas: “Cassiano é sensível e um mestre de todo o tempo. Com poemas curtos ele consegue concluir com perfeição uma filosofia de compreensão do ser humano”. O poeta e estudioso é considerado um dos grandes nomes da literatura brasiliense. O lançamento acontece no Carpe Diem (104 Sul), às 19h.

Nenhum comentário: