27 setembro 2008


Foto de primavera

Não gosto de flores, não gosto de chuva. Não gosto de viver.

Conto de primavera

De manhã, tudo que é sinistro se resolve. As vozes na minha cabeça se explicam; o olhar do cadeirante dominado deixa de me amedrontar. De manhã, o sol desencanta poeiras e Exus e deixa a casa ser minha e só minha. De manhã, o de noite vira sonho e eu posso até rir de mim e, sem receio, rir das grandes estrelas que poderei quase tocar quando morrer.

Notícias de primavera


Um romance de geração na telona - O Festival de Cinema do Rio de Janeiro, que já começou, apresenta dia 30 Um romance de geração, baseado no livro homônimo de Sérgio Sant'Anna. Sem dúvidas, o volume é uma das melhores coisas da literatura brasileira da autalidade. Sobre o filme, que conta até com participação especial do escritor (veja a foto), leia aqui.
Ato com texto - Produção, leitura e interpretação de textos, oficinas de criatividade, interpretação, trabalhos de dobradura, arte-educação, comunicação criativa e muito mais é o que oferece o espaço Ato com texto, idealizado pela professora, blogueira, jornalista Solange Pereira. Para saber mais, clique aqui ou mande um e-mail para sollpp@gmail.com.

24 setembro 2008


"É primavera, te amo"

Nem tudo que reluz é cor-de-rosa. E Emília observou, de baixos olhos, as linhas retas do prédio escondido pelas belas imitações de algodão doce.

Rápidas e práticas

Revista Literatura - Quinze microcontos de Liana Aragão estão no n° 35 da revista Literatura, organizada pelo melhor escritor vivo da atualidade, Nilto Maciel. Entre os convidados estão Astrid Cabral, Glauco Mattoso e Raymundo Netto. Quer um (ou alguns) exemplar? Escreva para niltomaciel@uol.com.br.

Um papo - O projeto Sempre um papo, que durante alguns anos foi patrocinado pela CAIXA e pelo Correio Braziliense, na árida capital, ganhou ares internacionais agora. Semana passada foi iniciado o Siempre una palabra, em Madrid, na Casamérica. O primeiro convidado foi Milton Hatoum. Veja o site. No Brasil, o projeto segue em Belo Horizonte. Veja a página.

Concurso - Até 13 de outubro, estão abertas as inscrições para o 3° Concurso Guemanisse de Minicontos e Haicais. Há prêmios em dinheiro para os primeiros colocados e publicação. Mais detalhes, aqui.

PS: Gorducha deve ter notado as duas luas do dia 27 de agosto. E deve ser a detentora das melhores imagens do fenômeno. Ela deve, igualmente, guardar ótimas fotos da chegada da primavera à cidade-concreto.

20 setembro 2008


Tereza V

Vazia e só, Teca sonha com um quarentão grisalho e bem resolvido; de bons modos e cheiro de homem; criativo e sensível; que a acolha, que a crie. Comemora a chuva bem vinda no deserto de seu coração e acorda: seu amor é muito jovem, careca e barrigudo. E ela o cria, pleno e perfeito, com a ajuda de Joaquim. Numa cachoeira plena e perfeita.


Expresso Sant’Anna

Tem trecho do novo romance de Sérgio Sant’Anna, encomenda do projeto Amores Expressos, da Cia das Letras, publicado no Rascunho. Sobre os livros do autor, eu já disse:

“A obra de Sérgio Sant’Anna é habitada por leituras dialéticas do contexto social passado e presente na vida do autor. Longe de fazer uma literatura inofensiva, Sant’Anna abre o jogo a todo o momento. E mais, com o recurso da metalinguagem, ele nos indica (e até induz) como deve ser o nosso olhar sobre um texto literário. As marcas da produção são, nesse romance, explicitadas no conteúdo (e também na forma), discutidas abertamente.” (com Laeticia Eable, em O autor e seus cúmplices: o intelectual na obra recente de Sérgio Sant’Anna, publicado no número 21 da revista Cerrados)

16 setembro 2008


Pedaços de blogs e de gente


Sparágmos - "
Tiramos o nome da frase inicial do primeiro espetáculo que encenamos: – A aurora que buscamos não é essa que aí está, nem qualquer outra que tentem nos impor. Um lixo."

Razão Poesia - "
Para quem nasceu com 80% no nariz e na pele, 15% significa aprender a arte de pescar vento. Todos reclamam do calor. Calor de deserto, quentura-mais-que-desanimadora."

Mal de Montano - "a prática de ler não significa em essência nada. O costume de ler pode ser um desábito de adquirir conhecimento. Entrar no piloto automático da leitura não traz por si só transformação."

Alice me persegue - "É muito estranho ser atriz. É muito estranho. Fazer um filme que é e não é seu. Agir e se entregar como se fosse outra. Criar cuidadosamente um corpo, reconstruir idéias, caminhos, pensamentos, histórias, infância, e sem mais nem menos começar a reagir."

Poesilha - "Música para ouvir de pijama. E bem acompanhado."

Vasto Abismo - "
Publicam-se todo ano no Brasil milhares de livros de poesia e prosa de ficção, quase sempre às custas dos próprios autores e em pequenas tiragens."

Carapuceiro - "Esperanza, marcada por agulhas de fabriquetas coreanas e a febre da selva, pisoteia los hombres em la calle."

15 setembro 2008

Tereza IV

Para Rubo

De um interlocutor aflito

Atenta, Tereza ouve a voz
Cheio de dúvida, cheio de dor
O interlocutor é uma noz

Concentra energias de boas-vindas
No vôo certo por vias tortas
O vento chega, lânguido, ao lar amigo
Ouve choro; derramadas as flores mortas

Torce, afaga, cheira, morde
Peito apertado, rasgado, Tereza
Abraça, limpa, reza, colhe
Do corpo, inerte, toda a beleza

Tereza é toda tentativa
Costura, prega, cola. Resgata.
É mãe e amiga, insuficiente
Pouco fala: é robô, é toda lata

Do frio vêm dor e sorrisos
E ela receita: tempo, paciência, espera
Sabe que tudo há de melhorar
Porque é quase primavera

10 setembro 2008

O livro-lp de Averbuck

Clarah Averbuck lança amanhã, no cabalístico 11 de setembro, o livro Nossa senhora da pequena morte, no Rio. Eu, cá de longe, fico curiosa e penso seriamente em tentar comprar, já que são apenas 200 exemplares de uma edição muito bonita, um tal livro-lp (veja a foto), e mais: até o momento não há indícios de que seja mais um self-book(buck). Se eu estiver enganada, me digam logo!

Quem vê prefácio...

Leonardo Vieira criou um blog para deitar seu livro. O monótono e pretensioso prefácio diz: "Hoje, publicar um livro requer que a experiência seja-nos generosa em metal sonante. Já que a miséria faz-se recente amiga, achei por bem divulgar meu segundo volume de contos sem nenhum dispêndio e, também, sem qualquer esperança de retribuição. São fraquezas de um fatalista". Não posso (e não poderei) opinar sobre os textos, mas quero crer que são ótimos. Aqui ó.

08 setembro 2008

Taguatinga, xixi e flor

Depois de uma segunda-feira cansativa, peguei meu calhambeque para um encontro em Taguatinga. Tudo bem marcado e nada menos que 35km e um trânsito infernal me separavam do espaço de paz. Marcado? Tudo fechado, portão, cadeado. Liguei pro Gu: "tá em casa? quero fazer xixi...". E ele: "não tô, mas pode ir lá". E me deu seu endereço. Em minutos, me vi tocando a campainha de uma bela casa bastante habitada de gente que nunca vi. Além do xixi, que fiz envergonhada, me aliviei diante da simpática - para dizer pouco, muito pouco - Florence Dravet, que me presenteou com o seu novíssimo Rascos de Brasil inteiro - 1. Iara. É de se acreditar? A pessoa enfrenta longo asfalto para mijar e ganhar um belo livro? Ou isso é mais um miniconto? Deve ser. Pois provo - delícia - com o trecho do poema "Força nua" abaixo:

Iara ri, linda e nua, no alto da Sé.
E elas correm, peças ao vento
A liberdade à mostra.
Elas se encolhem e caminham, envergonhadas,
de volta à casa;
Diante dos homens às calçadas.
E as velhas à janela balançam a cabeça.

Crônica sobre mercado n'O Povo

De volta à realidade, foi publicada crônica de Raymundo Netto no jornal O Povo. "Lançamentos de livros" trata dos autores cearenses desconhecidos e sua busca por um público leitor para o lançamento de suas obras. Veja.

07 setembro 2008

Eu já disse isso II

“Saímos simbolicamente da colonização em 1822 e simbolicamente continuamos sendo devorados, não territorialmente, mas muito física e culturalmente. Num país em que o ranço estuprador da colonização é virtualmente lançado ao passado, se mantém a sensação implícita de atraso, enquanto somos compensados por um sentimento de quase pertencimento ao grupo 'desenvolvido', 'evoluído'. A nossa literatura atual é espaço propício para se discutirem esses atrasos e para se consolidarem os sentimentos plenos de dominação – que, no caso do masculino sobre o feminino, embasa outras questões – física, sexual e simbólica.” (Trecho do artigo Em meio a atos tirânicos: (re)Leitura da mulher colonizada em 'Um crime delicado')

Feira do livro

Termina hoje a 27ª edição da Feira do Livro de Brasília. Ontem, dei uma volta por lá e vi algumas boas promoções. A quantidade de sebos também parece ter aumentado, o que é maravilhoso. O último dia costuma ser bom para quem quer comprar muita coisa: os descontos são maiores e vale, sempre, vasculhar as pilhas promocionais (com livros de R$ 5 e até R$ 1).

PS1: a caminho da feira, no ônibus, me surpreendi com a cidade, tão diversa e humana. De carro, é impossível contemplar pessoas, prédios, ruas e até mesmo as paradas com estantes cheias da w3 norte. Tereza há de estar mais viva.

PS2: soube ontem que a Gorducha se curou do resfriado prolongado, mas não anda bem do estômago. Continua temporariamente desaparecida do antro (marginal?) cinematográfico da capital federal.

05 setembro 2008

Tereza III

Aflita e suave, Teca olhou curiosa para o amigo torto, oblíquo. Teria levado uma surra? Ou só se empenado por um vento? O amigo, torto e sonolento, evitou os olhos dela e a cumprimentou sem vontade. Na mesma noite, ao correr para outro colo, Teca – segura – tentou manter a elegância que não lhe é freqüente, mas não suportou a idéia de que sua buceta fosse objeto quase sagrado. E que o seu uso estava relegado à reverência respeitosa do sexo torto sem penetração.

Coisas de Bienal de Poesia

Alexandre Marino criou um espaço no flickr para abrigar a sua exposição de fotos da I BIP. Veja. E, em homenagem ao evento, Giovani Iemini lançou ontem o ebook de poesia Músculo de minhoca. Baixe.

03 setembro 2008

Brasília respira poesia?

No meu mundinho-sem-tv-e-jornal-não-por-opção-mas-por-cansaço, a Bienal de Poesia anda relegada a segundo plano. Mas isso não há de ser real - vivo, afinal, em meio ao surreal mundo das fraldas, mamadeiras, bochechas fofinhas, "mamã" e Caixa Econômica -, pois o evento, que teve início hoje, não reúne meia dúzia de recitadores empolgados. É uma puta estrutura, com não sei quantos poetas, críticos, atores, músicos, cineastas espalhados pela cidade em lançamentos, mostras de vídeos, simpósios, saraus etc. Fabrício Carpinejar e Nicolas Behr participam. É, parece que Brasília anda respirando poesia. O Alexandre Marino, por exemplo, estará amanhã no Martinica Café, com vários outros jornalistas-escritores. Será às 21h30. Veja a programação.

E por falar em gente empolgada com literatura, a mineira Consuelo Rezende lançou hoje o seu Narco-íris, de poemas, do qual falei há alguns dias aqui, no Café Cultural da CAIXA.

Rápidas acadêmicas

Em 9 e 10/10, acontece o 9° Encontro de Ciência Empírica em Letras, na UFRJ. O evento funciona como um fórum de discussão de estudos interdisciplinares que privilegiam a abordagem empírica. Outras informações aqui.

A Comunicologia, revista eletrônica do mestrado em Comunicação da Universidade Católica de Brasília (UCB) recebe até o dia 30/9 trabalhos para publicação na edição de outubro de 2008. O tema é "cultura mediática". Veja a revista aqui.

CQC

Curtir o programa Custe o que custar, o CQC, da Band, tem sido a atividade da moda entre vários dos meus amigos. Eu já assisti e me diverti, mas ainda não consigo emitir uma opinião sólida sobre o programa. Aos fãs, vale uma passeada pelo blog do Danilo Gentili, o mais engraçado dos "repórteres". Aqui.

01 setembro 2008

Tereza II

As noites de Tetê já não eram as mesmas. Preferia ler J. Borges, o cordelista, em vez dos classudos pomposos autores contemporâneos de outrora. Divertia-se impunemente frente à tv de tela plana e 21 polegadas; cronometrava seus passos, suas atividades. Seu despertador acordava antes mesmo de o dia começar - quisesse ou não, chovesse ou não. Tetê carregava, incansável, o menino, as bolsas e a pedra. Pra cima, pra baixo. Tanto sangue derramado dentro do seu coração.
Eu já disse isso I

"Quando se dessacraliza a literatura, pode-se enxergar sem preconceitos a relação possível dela com as práticas de mercado. Afinal, a literatura é produto e, como tal, é objeto de troca, de consumo. O campo literário abrange não apenas aquilo que se julga inerente ao texto literário ou à presença dos agentes e suas interlocuções, mas também práticas como as publicitárias, cujo objetivo é vender para gerar lucro e não necessariamente emancipar". (Estratégias de atuação no mercado editorial – Marcelino Freire e a Geração 90, p. 121)

Piauiês na Feira do Livro


Paulo José Cunha lança na próxima quinta, dia 4, a 3ª edição da Grande enciclopéida internacional de piauiês. Será na Feira do Livro, a partir das 19h. Cunha é jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da UnB e autor de alguns livros.

Clássicos universais (afe!) no Rio

O prof. Leonardo Vieira ministra, a partir de amanhã, dia 2, o curso "Quatro romances universais" (ou seja lá o que ele quis dizer com esse adjetivo). Serão discutidos Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, O som e a fúria, de William Faulkner, As ondas, de Virginia Woolf, e Água viva, de Clarice Lispector. Outras informações pelo e-mail: leonardo33vieira@yahoo.com.br

PS: A Gorducha voltou do Rio e parece estar resfriada, como metade da população de Brasília neste momento. Me contaram que ela fez alguns contatos no meio cinematográfico carioca, mas, tal como acontece aqui, não lhe deram muito crédito. De cama, não perde a Pink Dink Doo ("sim senhore positone").