16 julho 2013

Tal salamandra

Os peitos pingavam leite. Mamavam o de três anos e o recém-nascido, ainda sem nome. Daniel? Leonardo? Manoel? Mais fácil fosse menina. Cruzava com os dois o deserto pra vender temperos do lado de lá. Conheceu um preto que andava com a morte. Não sentia medo. Acolheu-o. Ao jipe tinha afeição; só lhe afligia a canga invariavelmente amarrada ao volante - a fim de preservar o couro do sol. Era o único momento em que se sentia igualmente presa e insegura. Cabelos longos e duros de terra. Lembrava correia dentada. Lembrava gengiva no mamilo.

11 julho 2013

Chupeta erva doce

Foi hoje, quando despertei do sono da tarde, que percebi que o gosto amargo da garganta tinha sumido. A frustração sumiu. Espantei mãe, avó, sogra, tia e prima - o meu poder era espantar - quando puxei o menino do colo de uma delas e grudei no meu peito, que latejava. O menino bebeu tudo e secou o outro peito. Elas, nem palavra. Desafiei cada uma a me olhar nos olhos. Nada. Sabiam que nada podiam fazer. Minha mãe ainda ensaiou com os lábios, mas preferiu calar. Me olhou de esguelha, suspirou. Recolheu a bolsa e a vó e saiu. Deve tá boa da frescura, pensou. Não encorajou as outras a fazerem o mesmo. Cada uma com sua certeza ou dúvida, com a sua sentença e missão familiar. Botei o menino pra dormir, choroso. Fiz carinho. Penteei meus cabelos, lavei os peitos. Melei o bico da chupeta no chá de erva doce. O menino dormiu. Escutei a prima lavando louça. A tia tricotava um sapato azul. Sogra cochilava. Cacei o controle da TV. Eu estava sob o controle. Enfim.