22 fevereiro 2007

Do Cazaquistão ao Afeganistão

Uma tentativa de ridicularizar os estadunidenses? De gerar um riso gratuito e continuado? De nos fazer achar graça com o exagero do politicamente incorreto ou da pseudo-ingenuidade-estrangeira? Tentei achar uma razão para Borat. Até mesmo nos olhares daqueles – a quem eu sou incapaz atribuir o adjetivo “idiota”, coisa que muitos dos meus coleguinhas conseguiriam com facilidade – que se divertiram do início ao fim do filme. Que faziam as fileiras sacolejarem, as pipocas se espalharem no chão. Sala lotada. Fila antes de entrar e briga pelos melhores lugares. Tentei. Nada. O trailler me chamou a atenção. Seria um pastelão revisitado? Engraçado mesmo: o tal Borat com uma espécie de sunga verde-limão, tomando sol. O trailler. Sim, seria um filme divertido. Mas o que eu vi? Um amontoado de cenas bizarras. Agressivas até. Tentei. Não consegui ver motivo para aquilo. Alguém arrisca?

O caçador de pipas, do afegão Khaled Hosseini, já não precisa de tanto embaraço para ser entendido. O festejado romance, que desde seu lançamento, em 2003, ocupa o topo das listas de mais vendidos de jornais e revistas, é narrado em primeira pessoa por Amir, um menino afegão rico que assiste às diversas mudanças que o país sofre entre a década de 1970 e os dias atuais. Nenhuma peculiaridade narrativa. Não há jogos de linguagem e mesmo o suspense fica por conta do enredo em si. É um panorama diferente do país que nossos olhos aprenderam recentemente a enxergar com alguma antipatia ou pena.


O jornal das sete mulheres

Acabo de ver que a capa do jornal Rascunho deste mês traz sete mulheres que fazem literatura na atualidade. Apesar da inevitável exclusão de algumas boas representantes, temos Cíntia Moscovich e Maria José Silveira entre as moças da matéria com seus livros resenhados. Vale conferir.

15 fevereiro 2007

Mais estranho que a ficção é delicioso

Delicado, sensível e divertido. Assim é Mais estranho que a ficção, dirigido por Marc Forster, com roteiro de Zach Helm e atuação impecável de Will Ferrell e Emma Thompson. Um auditor com uma vida monótona e guiada por números (ele conta as escovadas em cada dente, os passos até o ponto de ônibus, faz contas enormes de cabeça etc.) passa a ouvir uma voz narrando todas as suas ações diárias. É uma escritora escrevendo o seu romance sobre Harold Crick, um auditor. Crick se vê como personagem de um texto ficcional que ainda está sendo escrito. Mas por que uma vida monótona interessaria à literatura? Veja e descubra. O filme é um delicioso livro para relaxar e pensar.

Fotografia – os nus de Okubo

Imperdível também é a exposição De todas as formas, de Kazuo Okubo. São 40 painéis maravilhosos com fotos de gente de verdade, e nua. Os cenários variam entre a arquitetura de Brasília, o Lago Paranoá, o interior de casas, o fundo liso de um estúdio e os espaços kitch de restaurantes da cidade. Nada de estereótipos, nada de beleza pasteurizada. Centro Cultural da Caixa (Setor Bancário Sul), até 11 de março, das 9h às 21h.

10 fevereiro 2007

Novidade secreta II

Lembram daquele "algo", cujo lançamento está previsto para março e que promete movimentar a cena brasiliense? Digo mais agora: os discursos, floreados ou não, serão acompanhados de imagens. E não haverá ordem nesse espaço. Tampoco pudores (isso é o que me disseram). Continuemos aguardando.

O som de Sahea

O poeta Marcelo Sahea fez algumas versões sonoras dos poemas de seu livro Leve. Agora elas estão disponíveis num novo blog, chamado SãoSom. Acesse aqui.
Concursos literários

Permanecem abertas as inscrições para o 4º Concurso Literário Guemanisse de Contos e Poesias, mas só até o dia 12. Acesse o regulamento aqui.

Inscrições no Prêmio Portugal Telecom (que, pela primeira vez, abre inscrições) podem ser feitas até o dia 31 de março. Participam romances, contos, poesias, crônicas, dramaturgias, biografias e autobiografias com primeira edição em 2006 ou publicados em outros países de 2003 a 2006, em língua portuguesa, desde que tenham sido publicados também no Brasil, no mesmo período. Outras informações aqui.

E até 30 de março, é a comissão do 49° Prêmio Jabuti quem recebe inscrições para as suas muitas categorias. O foco são os livros publicados em 2006. Veja o regulamento aqui. Além desses, outros concursos estão despontando por aí. Vale uma visita ao sugestivo link ao lado.

Literatura e resistência

Mesmo sem lançamento previsto, por enquanto, pinço mais alguns detalhes do número 28 da revista Estudos de literatura brasileira contemporânea, que comentei há poucos dias. "Velhice e marginalidade: a narrativa da experiência sucateada em Lembrancinha do Adeus, de Julio Ludemir" é o artigo de Susana Moreira de Lima, pesquisadora que há anos vem trabalhando com a representação de velhos na literatura contemporânea. Francismar Ramiréz Barreto, Maria Isabel Edom Pires, Mônica Kalil e Sara Freire Simões apresentam entrevista com Milton Hatoum, que é antecedida por um artigo de Gabriel Albuquerque, sobre identidade, alteridade e poder na narrativa do escritor amazonense. A professora Cíntia Schwantes aparece com o instigante "Preto no branco: as relações inter-raciais em As horas nuas e O eco distante da tormenta". Além disso, temos artigos sobre a literatura de Fernando Bonassi, Patrícia Melo e Sérgio Sant'Anna e as resenhas de que já falei sobre Joana a contragosto, de Mirisola, Contos cruéis, organizados por Rinaldo de Fernandes (essa é minha), Pena de aluguel, de Cristiane Costa, e Textos de intervenção, de Antonio Candido. Interessado em ter um exemplar? Mande e-mail para mim ou para a professora Regina Dalcastagnè, organizadora da revista: rdal@unb.br.

06 fevereiro 2007

Roda, jazz e cinema+literatura

Próximo sábado, dia 10, tem Dança circular sagrada, na livraria Cultura, com o grupo Rodas da lua, às 16h. Veja o convite abaixo.



Para amanhã e dia 14, a dica é a Cervejaria Platz (em frente ao Liberty Mall), com Caffeine Jazz, tocando cool, latin jazz, free, samba jazz, funk, hardbop, fusion e outros estilos. A partir das 20h.

Mais estranho que a ficção continua em cartaz (será que por muito tempo?). Academia, Drive-in, Embracine e Liberty. Corra. Eu preciso correr também.

03 fevereiro 2007

Paulo Coelho, o saco de pancadas, e reflexões sobre comunicação e literatura

Acabo de receber do prof. pernambucano Janilto Andrade os livros A arte e o feio combinam?, sobre textos de Marcelino Freire e que eu já tinha lido e observado pontos positivos e negativos na abordagem do professor, e Por que não ler Paulo Coelho, que me deixou curiosa. Eu, que nunca li nada do mago, mas que não antevejo motivo para não arriscar, faço coro ao grande crítico literário Saulo Costela, que afirma que a distinção proclamada sobre o que é ou não literatura – um exemplo está na já comentada coluna L2 do Pensar de ontem, em que Sérgio Sá diz que Paulo Coelho não é literatura – não passa de uma grande ficção e que “as intempéries literárias que tem abatido o Planalto Central se devem ao furor vaidoso típico de felinos, mas cuja bosta produzida não têm a mesma elegância da dos gatos de verdade”. Mas lerei a defesa pela não leitura de Andrade. Ops, de Coelho. A defesa de Andrade sobre a não leitura de Coelho. Isso.

Também recebi das mãos do poeta e professor Gustavo de Castro os livros Ensaios de complexidade, Jornalismo e literatura: a sedução da palavra, O mito dos nós: amor, arte e comunicação, Sob o céu da cultura, Filosofia da comunicação e Complexidade à flor da pele: ensaios sobre ciência, cultura e comunicação, todos de Gustavo ou com participação dele. E ele também me entregou A evolução do cinema brasileiro no século XX, de Ricardo Wahrendorff Caldas e Tânia Montoro (ela, que foi minha orientadora no trabalho de fim de curso nos tempos remotos em que me formei em jornalismo), da Casa das Musas, editora de que Gustavo é sócio. Não vai faltar o que degustar e pensar nos próximos meses.

Literatura contemporânea em debate

Está em vias de ser lançado o número 28 da revista Estudos de literatura brasileira contemporânea, organizada pela profª Regina Dalcastagnè, da UnB. Além de minha resenha sobre Contos cruéis: as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea (organização de Rinaldo de Fernandes, Geração Editorial), o volume traz textos sobre Pena de aluguel (Cristiane Costa, Companhia das Letras), da pesquisadora e amiga Virgínia Leal, e sobre Joana a contragosto (Marcelo Mirisola, Record), com uma leitura muito reveladora de Anderson da Mata, também doutorando e amigo. Logo darei notícia do lançamento.
Novidade secreta

Está previsto para março o lançamento de algo que vai tanto movimentar positivamente o campo literário de Brasília, quanto causar (ou agravar) picuinhas, melindres e outras frescuras. Muitos poetas, contistas, romancistas e interessados em literatura vão passar a conhecer o habitat das inspirações. Uau. Aguardem.

Congresso de literatura comparada em julho

A Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) promove de dois em dois anos um congresso internacional para discutir literatura. Alguns encontros regionais são realizados no ano que antecede o maior, como preparatório deste. Em 23, 24 e 25 de julho, acontecerá o XI Encontro Regional da ABRALIC, com o tema "Literaturas, artes, saberes". Nos próximos dias serão divulgados os simpósios e abertas as inscrições. Também haverá chamada para artigos a serem publicados na revista da associação. Veja o site. O encontro será na USP.

Debate e comentário da coluna L2

Fisgada da coluna de Sérgio Sá, no Pensar de hoje: Fernando Vilela, que lançou Lampião e Lancelote no fim do ano passado, participará de debate com Álvaro Faleiros e Alexandre Pilati sobre o livro. Será na Cultura (Casa Park), às 17h.

Sobre a nota a respeito de Mirisola, em que Sá anuncia a reedição de Fátima fez os pés para mostrar na choperia pela Estação Liberdade, o colunista opina que os livros de Mirisola "diagnosticam com precisão a idiotice do Brasil contemporâneo" e acrescenta, entre parênteses, "para quem tiver dúvida sobre isso, vale olhadela no Big Brother Brasil". Ao me deparar com essas manifestações empoladas, que ressaltam a superioridade do intelectual - e a necessidade de conhecimento, de educação etc. -, tendo mesmo a me recolher para refletir o quão babacas somos às vezes. E não falo de Mirisola, se é que já não perceberam. Até porque o autor de Joana a contragosto é muito interessante: cria narradores babacas contundentes e escatológicos, mas divertidos porque são resultado de uma teatralização de Mirisola, que ri de tudo (inclusive dessas colunas puritanas...). A saber, o Diego (Alemão) é o líder da semana.