13 março 2013

Penélope

No banho, você cogita situações, ensaia discursos, diálogos, respostas. Você se imagina em seu próprio leito de morte, pedindo a alguém próximo que chame por ele. Você o vê chegar, tentando bancar o indiferente e dizendo algo como "diga logo o que quer, porque tenho compromisso", olhando para um pulso sem relógio. Você, com a calma dos que estão mais mortos que vivos, o rosto lilás e a voz rouca, lhe despeja na cara verdades engasgadas. Não com crueldade, mas com ar educativo: "vês? percebes?". E ele, afinal, deixa as lágrimas correrem, pede que o perdoe, se diz lamentoso por você estar ali, naquela situação, que queria que tudo tivesse sido diferente e. A merda é que não passa de devaneio. E logo você se enxerga saudável e ensaboada.

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