28 outubro 2013

Tarde em Teresina

Ofereceu o que tinha - um corpo seminu, com estrias, sob o barulho e vapor do ventilador. As muriçocas planavam perto do teto, esperando que o vento quente desse uma trégua. Tadeuzinho, à espreita, pensou se desejava ou não a mulher. Rosa fingia um sono pesado. Num delírio teatral - porque quem finge que dorme finge que sonha -, pensava num futuro não muito distante: Tadeuzinho, prestes a comê-la com afinco, seria mais tarde o corno vingativo e perseguidor que a vidente de Patos de Minas lhe alertara. E Rosa nada poderia fazer, dali a pouco o carma teria-se lançado. Despertou, dissimulada, pelo bafo quente e pelos cotovelos inconvenientes de Tadeuzinho sobre ela, sorrindo. Ela retribuiu o sorriso. Muitas muriçocas morreram de esperar.

Nenhum comentário: