A mãe do filho de Henrique
Pronto. A dor parou de doer e já lhe puseram um menino nos
peitos, melado. Reagiu como se esperava que reagisse, ajeitou a criança,
cuidadosa. Era isso? Acabou, afinal? Ali estava o fruto de um amor doentio e
incerto? Tão pobre quanto já era, agora tinha um menino – ou menina? nem viu
ainda - pra criar. Sem dor física, enfim, e cheia de ordens a seguir: segure
assim, pegue por baixo, ofereça o peito. É, podia ter sido uma boa ideia mesmo,
ainda que não tivesse sido ideia, ainda que tivesse sido acidente. Um bacuri
pra fazê-la rir; pra ela brincar de boneca, lembrando das figuras cabeludas de
sabugo de milho que fazia na infância. É, Henrique já tinha três e poderia
ensiná-la a dar banho e trocar fraldas. Os olhinhos a olhavam desafiadores.
Olhinhos de macho - era um menino, afinal. E ela o cobria de beijos, deixando a
meleca branca grudar em seus lábios. Figurinha cabeluda interessante. Cadê o
Henrique, hein?
#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto