28 fevereiro 2014

A mãe do filho de Henrique


Pronto. A dor parou de doer e já lhe puseram um menino nos peitos, melado. Reagiu como se esperava que reagisse, ajeitou a criança, cuidadosa. Era isso? Acabou, afinal? Ali estava o fruto de um amor doentio e incerto? Tão pobre quanto já era, agora tinha um menino – ou menina? nem viu ainda - pra criar. Sem dor física, enfim, e cheia de ordens a seguir: segure assim, pegue por baixo, ofereça o peito. É, podia ter sido uma boa ideia mesmo, ainda que não tivesse sido ideia, ainda que tivesse sido acidente. Um bacuri pra fazê-la rir; pra ela brincar de boneca, lembrando das figuras cabeludas de sabugo de milho que fazia na infância. É, Henrique já tinha três e poderia ensiná-la a dar banho e trocar fraldas. Os olhinhos a olhavam desafiadores. Olhinhos de macho - era um menino, afinal. E ela o cobria de beijos, deixando a meleca branca grudar em seus lábios. Figurinha cabeluda interessante. Cadê o Henrique, hein?


#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto

Nenhum comentário: