20 fevereiro 2019



Las Ramblas


Finzinho de verão. Enfim, nas Ramblas, eu desfrutava de merecidas férias num bar, com a vista de uma praça. 

Sou um cara bonitão e, com aqueles trajes em linho, tintas, óculos escuros e cigarros mentolados, senti que pareceria ainda mais atraente. Logo alguma moça me dirigiria olhares suplicantes. Era meu devaneio. Sozinho há seis meses, não conseguia me desfazer da raiva e da inveja de Joice, que devia ter vindo pra Barcelona comigo. E me sentir bonitão assim e ali era a minha vingança.

Era cedo para beber, então pedi um café, enquanto tirava o material da bolsa.

- ¿italiano?

- no. Soy brasiliano.

- no – impaciente e dando um tapa na testa – ¿café italiano?

- ah... yes... sí... grazie – enrubescido.

Pedi também um copo d’água pra aquarela. Tracei uma árvore. Outra. A lateral de um prédio antigo. A porta. Misturei preto, vermelho e azul, em busca de um marrom aproximado. Faltava amarelo.

Ele chegou ao meu lado, me apontou uma pistola – ou o que eu supus ser uma – e cochichou: todo. Queria tudo. Entreguei minha carteira, minha bolsa com passaporte. Hesitei, mas lhe dei moleskine, paleta, pincéis e até o copo d’água, que ele me devolveu em seguida. Pegou o meu iphone 4C, examinou rapidamente e me devolveu. Sumiu.


Consegui entender o garçom dizendo que não iria me cobrar o café, mas que eu não podia ficar ali. E ele tinha pressa.

A raiva de Joice desapareceu. E passei a sentir inveja dos turistas que sabiam, ao menos, o endereço do hotel.

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