05 abril 2010

Invictus - humilde comentário

Semana passada, assisti à quase derradeira sessão de Invictus, uma da tarde numa das salas menos badaladas da cidade. É um lindo extrato da biografia de um dos maiores homens que a humanidade já conheceu. Um exemplo de compaixão, de perdão, de amor incondicional. O cara é um iluminado. Não à toa recebeu o Nobel da Paz em 1993 (mas depois de Obama também ter ganho eu já não sei se o prêmio é referência). A atuação de Morgan Freeman é impecável e Matt Damon não está nada mal. Lindo filme. Pra finalizar, a parte final do poema Invictus, de William Henley, inspirador de Mandela na prisão: "Eu sou dono e senhor de meu destino. Eu sou o comandante de minha alma".

21 março 2010

Bah, o mundo da literatura ainda existe

De 24 a 26 de março, acontece em Brasília o 1º Colóquio Internacional sobre Poéticas da Oralidade Cordel: uma tradição que se refaz. A abertura será dia 24, às 15h, no auditório da Reitoria da UnB. As inscrições podem ser feitas por e-mail: coloquiocordel@gmail.com. E outras informações, você encontra aqui.

E ainda na UnB, o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea e a Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília organizaram o curso de extensão Desconstruir nacionalismos – resgatar identidades regionais, com a professora Ria Lemaire, da Universidade de Poitiers. O curso, ministrado em português, acontece entre os dias 22 e 24 de março. Informações aqui.

E Ivana Arruda Leite lançou há poucos dias seu segundo romance, Alameda Santos. Costumo gostar muito dos textos dela, cujo humor oscila entre o ácido e o inocente, sempre com uma perspectiva desesperançosa e inevitável: feminina até a raiz dos cabelos. Veja o blog dela aqui.

Na telona

Me diverti com Simplesmente complicado semana passada. Majestosos Meryl Streep e Alec Baldwin. Interessante ver como as coisas acontecem sob uma perspectiva, digamos, 'madura' do amor, da vida, do sexo. Balela: tudo igual, tudo confuso, tudo complicado. Mas divertido, no entanto. Há algo de leveza ali, que é raro nas relações 'descomplicadas'.

Saudades de Tereza?

Ela é nova, melhor, mas não inteira. Lê um best de Marian Keyes, vê comédias românticas aos pedaços, enquanto o sono permite, se exercita, trabalha, cuida de três crianças. E briga muito com uma delas.

21 fevereiro 2010

Back

2010 segue e seguem a pele, a alegria, o ódio, a fé, o cheiro, o amor e a incompreensão. O carnaval acabou. Agora, Jack, traga-me o horizonte.

09 novembro 2009

Breve histórico de um caminho

1979 - eu nem sabia se estava mesmo viva; via vultos; berrava; pedia braço, abraço, colo e leite quente. Peito. Era dona de uma situação tão minha quanto as minhas certezas de agora. Urrava sem mesmo entender qualquer coisa, sem mesmo lamentar.

1984 - a melhor coisa do mundo havia de ser uma tv a cores, a praia mansa - ao menos a que tinha a meu alcance - de vento mole e coca-cola. Meus cabelos dominavam todo o litoral do meu rosto, extensos e informes. Sorriso de filho que não sabe o que existe, além de uma boneca negra que imitava bebê. Comia lápis de cera, numa espécie de insubordinação inocente.

1989 - diretas, constituição, presidente eleito. A Xuxa era a referência de beleza, inteligência e competência. Barbies já tinham seu lugar. Nova escola, novos amigos. Primeira paixão, talvez. Tão irrealizada quanto as que vieram em seguida. O meu mundo era expresso em desenhos. Alguns muito bons até.

1994 - beijos, beijos, beijos. Conquistadores motorizados ou livres para beber e fumar. Tórridas e ardentes paixões utópicas. Vida para a dança, a rua, os beijos. Rodopios, fugas, juras de amor. Noites viradas, suadas e imaculáveis. Amizades fiéis para sempre. Chorava agora entendendo algo muito mais dolorido. Braço, abraço e colo serviam. Pouco.

1999 - sexo e mais. Amigos e mais. Estudos e mais. Tudo o que eu pudesse, quisesse... Realidade mesquinha: eu não podia, não podia. Autoregramento intenso, firme, reto. Ressentimento, dor, câncer de alma e máscaras, e máscaras, e máscaras. E desenhos.

2004 - alguma fuga, alguma ousadia. O choro era denso, mas disfarçado. Sabia que estava viva, mesmo parcialmente morta. Planos à prova, ideais à prova. Regra, trabalho, casamento. Poesia; coração atado. Doído.

2009 - maternidade plena e confusa. Vira-volta: rumo ao passado, à liberdade adolescente, aos beijos, beijos, beijos. Ao sexo. A crença, calejada e desconfiada, entregue e insegura, no amor de novo. No mais errado dos caminhos; na mais incerta aposta. Eu: mulher intensa e amiga decepcionante.

26 outubro 2009

Contos de Nilto reunidos

Acaba de sair do forno Contos reunidos - volume I, do grande Nilto Maciel. O livro é um compilado de três: Itinerário, Tempos de mula preta e Punhalzinho cravado de ódio e o prefácio, feito com muito amor, é desta que vos fala. A edição ficou super bonita. De Nilto, falo sempre: é um escritor competentíssimo, nascido em Baturité-CE. O maior exemplo de autor que escreve por prazer, na minha opinião. Outra criatua comentou esse grande lançamento: veja aqui. E o site da editora, que infelizmente ainda não traz informações sobre o livro, é este.

18 outubro 2009

Tereza XXXVI

Maga. Encaixa, molha, respira.
Tolhe e acolhe.
Pira, arrolha, rebaixa (insolene). Vaga.

Velha. Choro, ruga, lamenta.
Sente reticente.
Argumenta, pulga, mouro (absorto). Espelha.

Viva. Peixe, varão, pedir.
Tereza tristeza.
Regredir, leão, feixe (de novo caminho). Ativa.

14 outubro 2009

Desonra filmado

Está para chegar às locadoras o filme Desonra, baseado no bestseller de J.M. Coetzee, que levou um Prêmio Nobel de literatura pelo livro. Relações que envolvem questões raciais - num interessante jogo de ironia do autor - e violências, em cenário sulafricano de pós-apartheid, dão o tom à trama. David, o protagonista, é interpretado por John Malkovich. Não sei o motivo, mas o filme não passou pelas salas de cinema. Se fizer jus ao livro, é uma grande pedida.

Tereza XXXV

E eis que ressurge a preta Tereza, feliz e cansada. Dança em bloco de carnaval fora de hora, acena para gente pintada e elástica, chora com músicas melosas, sente saudades da avó e faz sexo e macumba. Tereza goza dias de nada, inerte. Dorme, lê, cozinha, cuida de menino, come, dorme. Muda. E acorda puta, confusa e insegura.

29 setembro 2009

Narrativas contemporâneas

O Departamento de Literatura e Teorias Literárias da Unb tem promovido os Seminários de Pesquisa: Narrativas Contemporâneas, com debates sobre textos literários e sua relação com a realidade, promovidos por estudiosos de diferentes áreas e universidades. Hoje tem discussão sobre xingamentos e loucura. Veja programação.

29/9
Valeska Maria Zanello de Loyola (prof. Psicologia do IESB)
Xingamentos: entre a ofensa e a erótica
Gislene Maria Barral Lima Felipe da Silva (doutora em Literatura/UnB)
Olhando sobre o muro: representações de loucos na literatura brasileira contemporânea
Debatedora: Cíntia Schwantes (professora drª Literatura UnB)

13/10
Tatiana Lionço
Homofobia e educação: uma análise dos livros didáticos distribuídos pelo Governo Federal
Leda Cláudia da Silva Ferreira (mestre Literatura UnB)
A personagem do conto infanto-juvenil brasileiro contemporâneo: uma análise a partir de obras do PNBE/2005
Debatedora: Larissa de Araújo Dantas (mestre Literatura UnB)

27/10
Ondina Pena Pereira (profª drª Psicologia/Católica)
Alteridade e violência: travestis e mulheres transexuais em situação de prostituição no Distrito Federal
Adelaide Calhman de Miranda (doutoranda Literatura UnB)
Sob camadas de preconceitos: a travesti na literatura brasileira contemporânea
Debatedora: Mariana de Moura Coelho (mestranda Literatura UnB)

10/11
Paulo Cesar Thomaz (doutor Literatura USP)
O dilaceramento da experiência: as poéticas da desolação de Bernardo Carvalho e Sergio Chejfec
Anderson Luís Nunes da Mata (doutorando Literatura UnB)
O conceito de representação na narrativa brasileira: as fraturas no projeto de uma literatura nacional
Debatedora: Maria Isabel Edom Pires (profª drª Literatura UnB)

24/11
Mariza Vieira da Silva (profª drª Linguística/Católica)
A língua, a história, o sujeito
Susana Moreira de Lima (doutora Literatura UnB)
O outono da vida: trajetórias do envelhecimento feminino em narrativas brasileiras contemporâneas
Debatedora: Bruna Paiva de Lucena (mestranda Literatura UnB)

28 setembro 2009

Desafio os puristas: isso é literatura?

A quem aguentar não pesquisar no google, pergunto: o que é isso?

Procure
na sombra da flor de espinho
Num peixe de mar sozinho
Desnude esse amor
Tristeza
reflete no rio do meu rosto
Pintura de amor e desgosto
Você quem pintou
Viver a vida, mais uma novela

Caminho das Índias chegava a ser ridícula. É difícil respeitar uma novela de Glória Perez. No entanto, havia coisas que me chamavam a atenção e uma delas era o gracioso pseudosotaque de Tony Ramos. Havia algo de divertido ali. Não posso dizer o mesmo de Viver a vida. O cenário - apesar de enjoadamente belo - deveria pelo menos nos remeter a uma realidade real. Mas não. Nada é real ali. Manoel Carlos consegue fazer algo ainda mais surreal do que os diálogos fakes de Glória. O anúncio prévio e providencial de que a protagonista - mais uma Helena, quem aguenta? - seria negra causou curiosidade. Mas o rebuliço se limitou a isso. O resto é mais do mesmo. Uma Helena feliz, com seu diálogo feliz, cheio de tiradas felizes, que nem mesmo com um texto bem decorado parecem deixar Taís Araújo "natural". Nada há de natural, de normal, de cotidiano (nem o cabelo maravilhoso dela, que me causa sincera inveja). Obviamente falo do meu lugar, de bancariazinha remediada. Afinal, eu nunca dormi num iate; eu não tenho (e provavelmente nunca vá ter) mansão em Búzios; eu não conheço ninguém que, casando após duas semanas de namoro, tenha passado a lua de mel em Paris; eu sei diferenciar terça-feira de sábado; e eu não tenho um cabelo maravilhoso daqueles. Enfim, se há algo que essa novela faz bem, é o fato de nos afastar da realidade. E isso a aproxima daquela literatura tão firulada quanto seus fazedores-consumidores. A mim me falta paciência e sobra suor.

21 setembro 2009

Noite de deusas

Amanhã, o Instituto Saraswati (705 Sul) promove a Noite das deusas, curso sobre sensualidade para mulheres. Será a partir das 19h30 e custa R$ 60. Mais informações aqui ou pelo telefone 3306-1588.

Em nome da mãe

Será lançado no próximo dia 8 de outubro, no Carpe Diem (104 Sul), a partir das 19h, o livro Em nome da mãe - o não reconhecimento paterno no Brasil, de Ana Liési.

17 setembro 2009

Virgínia comenta Ivana

Minha amiga Virgínia Leal, doutora em Literatura Brasileira, publicou resenha do primeiro romance de Ivana Arruda Leite, n'O Globo, no último dia 5/9. O texto trata de Hotel novo mundo, da editora 34. Veja o comentário da escritora em http://doidivana.wordpress.com/.

Conferências da primavera

Acontecem todas as terças-feiras deste mês as Conferências da primavera: escritores falam de sua escrita. Escritores da UnB participam dos encontros, sempre às 16h, no espaço Cassiano Nunes, na Biblioteca Central. O primeiro trouxe a professora do Departamento de Teorias Literárias Elga Laborde.

Literatura e corpo

Foi lançado na última terça o número 33 da revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, com dossiê sobre literatura e corpo. Interessados podem adquirir um volume entrando em contato com o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da UnB, pelo e-mail grupodeleituraunb@gmail.com.

Um poeta virtual

Geraldo Maia é, segundo ele mesmo diz, "um canal pelo qual o universo se manifesta". O poema do qual colhi o trecho abaixo, "A celebração da vingança", é um apanhado cordelizado de dor e beleza, cru como o que lhe movimenta: o racismo. Conheci Maia e seu poema de todos virtualmente e é assim que o apresento, com minha admiração. Divirtam-se.

Morre negro, morre branco
Mas só negro sofre o tranco
De morrer pela polícia
Branco ladrão tem malícia
Gravata e talão de cheque
Negro é sempre moleque

A polícia corre atrás
De bandido e manda bala
Mas na ponta de sua fala
Só o negro é inimigo
Assim também é demais
O negro corre perigo

(...)

Ainda hoje que rola
O racismo faz escola
Até mesmo no PRONASCI
Falam “mancha criminal”
Pedem que você abrace
Essa coisa infernal

Que é “mulheres da paz”
No fundo a pessoa faz
É delatar criminoso
Tornando mais perigoso
Viver na comunidade
paz não é caridade

(...)

Só assim o negro serve
Enquanto o sangue não ferve
E arrebenta as algemas
Muda de vez essas cenas
Não mais “presunto” criança
Mas celebrar a vingança

07 setembro 2009

Rapidinhas


Esta semana, começa o I Festival de Literatura de Cataguases-MG. Clique aqui para programação, inscrição das palestras e oficinas e outras informações.


Encerram-se dia 21/9 as inscrições para o 8° Concurso Literário de Contos e Poesias 2009 da editora Guemanisse. Haverá premiação para os três primerios colocados e esses com outros autores que obtiverem menção honrosa terão seus trabalhos publicados. Os prêmios em dinheiro variam de R$ 1 mil a R$ 3 mil. Mais informações aqui.


Na web, curto, acompanho e recomendo: Ato com texto - Manual do Cafajeste - Homem é tudo palhaço.


Obras de museus franceses em Brasília

26 agosto 2009

350 mil livros com até 80% de desconto


Até 31/8, a Editora UnB promove o Feirão de livros, que disponibiliza mais de 350 mil obras de diversas áreas do conhecimento com até 80% de desconto. Vale conferir: no Ceubinho, das 8h às 19h.

21 agosto 2009

Tereza XXXIV: Tereza tem um amor que amanhece como se tardasse,
singelo e vegetal, à sombra duma janela qualquer.

19 agosto 2009

Tereza XXXIII

Apagou o cigarro na sola e ajeitou o chapéu. Enquanto contemplava as abóbadas que careciam de desenhos, Tetê não percebeu de imediato que Claudinei a desejava. O mesmo filho da puta de sempre, ali, naquele batizado sem nexo, fez a negra derreter quando, enfim, o notou. Os bigodes, o terno, as lembranças, o cheiro, a mulher bem vestida ao lado, as flores, as velas. À distância Tetê pendia, abanava-se no ritmo da ladainha do coro juvenil. Devotou a ele seu olhar mais sensual e levantou dissimulando calma e tranquilidade. Na porta, encontrou o toco de cigarro. Pegou, acendeu. Claudinei sussurrou promessas e ela se dignou a voltar para casa, apenas, de ônibus, em lágrimas.

13 agosto 2009

3 em 1

Pra começar, digo que foi adiado o primeiro encontro do curso de extensão Vozes dissonantes na literatura brasileira contemporânea, ou o que não cabe no projeto nacional. A data prevista agora é 28/8. Os livros da editora Casa das Musas agora podem ser comprados virtualmente. Conheça a loja clicando aqui. E atenção atenção atenção: já está em cartaz o filme Um romance de geração, baseado no livro homônimo de Sérgio Sant'Anna. A primeira edição foi lançada em 1988 e o romance é, sem dúvida, a obra prima do escritor, que por sua vez figura entre os (dois?) melhores autores vivos. Espero que o filme faça jus.

10 agosto 2009

Projeto nacional da literatura brasileira em debate

Estão abertas as inscrições para a atividade de extensão Vozes dissonantes na literatura brasileira contemporânea, ou o que não cabe no projeto nacional, promovida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da UnB. Os encontros acontecerão quinzenalmente, iniciando na próxima sexta, dia 14.
Estão previstas as discussões sobre livros de Autran Dourado, Luiz Ruffato, Sérgio Sant'Anna, Ferréz, entre outros. No dia 14, a conversa será sobre Contos do imigrante, de Samuel Rawet. Os encontros serão sempre às 15h, no auditório Agostinho Silva, do Departamento de Teoria Literária e Literaturas. Para participar, envie e-mail para grupodeleituraunb@gmail.com.

07 agosto 2009

Sobre Cordilheira

Li Cordilheira tendo lido outros dois livros de Daniel Galera e sabendo que se tratava do primeiro volume da coleção Amores Expressos, da Cia das Letras. Só. Nenhuma crítica ou elogio, além do "Leia" imparcial de minha melhor amiga. Bom romance. Narrado em primeira pessoa por uma jovem escritora, o livro começa instigante, gostoso. Me vi curiosa com a história da menina que vai apática a Buenos Aires para acompanhar o lançamento de seu primeiro livro e não demorei para estar envolvida. O ponto alto é a presença - chata - das figuras asquerosas que representam os grupinhos herméticos de literatos metidos a besta da vida real. Boa sacada, mas que poderia ter ficado melhor como marca d'água, ao fundo. O miolo, por essas presenças, chega a ser sacal. Como é sacal conversar com um desses seres que se julgam melhores que seus interlocutores. Havia mais o que dizer de Anita e sua vida, de Magnólia, de Julie e da instigante esposa do cara da Terra do Fogo. O último capítulo é lindo, mas o final (relaxem, não vou contar) me decepcionou. Enfim, Galera sempre me surpreende por sua boa costura, sua primorosa técnica e sua juventude. Recomendo.

PS: quero, deveria e poderia, mas não vou comentar a escolha pela narrativa ser conduzida por uma mulher, nem a presença das figuras femininas tão marcantes.