19 maio 2013

Aimée

Sabia ser delicada, se quisesse. Se quisesse. Viu Pierre chegar e achou seu nome comum e impronunciável; tantos erres lhe tiravam o ar. Conseguiu cruzar as pernas esboçar um sorriso. Pierre acenou - talvez para ela, talvez para a janela - antes de começar. Em vez de se concentrar no que ele dizia - a tão esperada revisão para a prova de francês - fixou-se na curvatura incerta do nariz, na eloquência do jovem professor, nas variantes da voz. Sentiu vontade de arrotar. Segurou a ponta de um cacho e desenhou, canhota, linhas que poderiam esboçar qualquer besteira. Treinou a pronúncia: Pier-re, Pr-erre. Certa de que não se esquecera de nenhum erre. Malditos erres. Malditos ditos confusos, que a faziam parecer boba. Suspirou e desejou ter motivo para um comentário pós-aula. Pierre lhe tirara o ar.

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