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Geralda
Deixei o serviço público depois que vi uma
menina de doze
anos grávida do próprio irmão. Foi o meu último atendimento. Não que eu
tenha
precisado escolher. Já vi outras várias atrocidades e talvez o acúmulo
delas tenha
me deixado assim, arrasada e impotente. Decidi, anunciei a data, assinei
papéis
e pronto. Saturada. E não bastava os casos serem extremos; o atendimento
que pude
prestar foi ridículo. Eu mal tinha materiais para um curativo. Deixei
essa
vida. Agora dou aulas até conseguir montar um consultório. Me afastei do
pior
que o ser humano já pôde construir. Mas ele ainda existe.
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