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Nancy
Na queda, perdeu dois dentes e um
bocado do
juízo. A partir daí, a memória não lhe registrava nada ordenado,
racional.
Lembrava-se de surtos em que parecia, observadora, estar fora do próprio
corpo,
que se debatia, reclamador das mãos e dos tapas que o tentavam
controlar. Outros
tantos dentes foram caindo e os familiares ganharam escamas na época em
que
começou a chover flores em seu quarto. Sentia picadas seguidas de
frescor
e sono. Depois de muitos ataques recorrentes em casa, levaram-na. Agora
eram só
roupas brancas, azulejos psicodélicos, feridas nas pernas, moscas no
nariz escorrento.
Colegas apáticos. Choque. Falta de mãe e de pai. Falta de maçã, falta de
dentes.
(com Rubens Rodrigues)
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