30 maio 2012

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Nancy

Na queda, perdeu dois dentes e um bocado do juízo. A partir daí, a memória não lhe registrava nada ordenado, racional. Lembrava-se de surtos em que parecia, observadora, estar fora do próprio corpo, que se debatia, reclamador das mãos e dos tapas que o tentavam controlar. Outros tantos dentes foram caindo e os familiares ganharam escamas na época em que começou a chover flores em seu quarto. Sentia picadas seguidas de frescor e sono. Depois de muitos ataques recorrentes em casa, levaram-na. Agora eram só roupas brancas, azulejos psicodélicos, feridas nas pernas, moscas no nariz escorrento. Colegas apáticos. Choque. Falta de mãe e de pai. Falta de maçã, falta de dentes. 

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