273/365
Marina
Ser alegre, para ela, é parecer alegre, é fingir. É, acima de tudo, sentir inveja da alegria real de outrem. Amar ama; viver vive; trabalhar trabalha; rezar reza; sofrer sofre; problemas tem. Tudo dentro da normalidade pequeno burguesa típica e medianamente classe média. Alegria, no entanto, é artificial, como uma fatura apresentada a uma sociedade que a acolhe e despreza. Mulher de tino, talvez, desextraída a apatia. Mas mulher sem timo.
30 setembro 2012
29 setembro 2012
271/365
Sebastiana
Acácio conheceu Sebastiana em 1977, meio índia, cabeluda. Acompanhou o crescimento físico e talentoso dela. Soube, seis anos atrás, que ela fugiu para Rondônia. Sente falta das noites varadas conversando ou tocando violão. Cigarro, violão, cerveja. Sente falta dos olhos e do amargor de Sebastiana.
Sebastiana
Acácio conheceu Sebastiana em 1977, meio índia, cabeluda. Acompanhou o crescimento físico e talentoso dela. Soube, seis anos atrás, que ela fugiu para Rondônia. Sente falta das noites varadas conversando ou tocando violão. Cigarro, violão, cerveja. Sente falta dos olhos e do amargor de Sebastiana.
27 setembro 2012
26 setembro 2012
269/365
Leandra
Tenho nome de atriz famosa, vinte anos mais jovem do que eu, mas sou um trapo humano. Minha pele tem cor de poluição; meu hálito e minhas secreções têm mais germes, vírus e bactérias do que qualquer pessoa com higiene duvidosa. Eu não tenho higiene alguma. Morar mora-se em casa, com banheiro, água encanada, esgoto. Ou nem isso, se for uma fazenda, mas se tem família ou um fogão à lenha, pelo menos. Na rua não se mora: se dorme, se come, se perambula, se droga, se rouba, se cansa, se esquece que é gente. Não me lembro do cheiro de um banheiro limpo. Do meu passado, só tenho o nome: Leandra. Não aceito apelido.
268/365
Jandira
Suor. Carlos chegou. Raspei a periquita e fiz feijão gordo. Ele gosta. Botei o Julião, o Carlos Jr, o Frederico e o Riquelme pra dormir na vizinha. Passei o perfume que ele adora. Sintonizei, baixinho, uma rádio romântica. Carlos chegou. Cachaça. Não, isso não vai prestar. Vagabundo, jogou o prato longe - ainda estava quentinho. Ele odeia rádio quando bebe. Ele vai me matar. Onde estão meus meninos? Onde me escondo?
Leandra
Tenho nome de atriz famosa, vinte anos mais jovem do que eu, mas sou um trapo humano. Minha pele tem cor de poluição; meu hálito e minhas secreções têm mais germes, vírus e bactérias do que qualquer pessoa com higiene duvidosa. Eu não tenho higiene alguma. Morar mora-se em casa, com banheiro, água encanada, esgoto. Ou nem isso, se for uma fazenda, mas se tem família ou um fogão à lenha, pelo menos. Na rua não se mora: se dorme, se come, se perambula, se droga, se rouba, se cansa, se esquece que é gente. Não me lembro do cheiro de um banheiro limpo. Do meu passado, só tenho o nome: Leandra. Não aceito apelido.
268/365
Jandira
Suor. Carlos chegou. Raspei a periquita e fiz feijão gordo. Ele gosta. Botei o Julião, o Carlos Jr, o Frederico e o Riquelme pra dormir na vizinha. Passei o perfume que ele adora. Sintonizei, baixinho, uma rádio romântica. Carlos chegou. Cachaça. Não, isso não vai prestar. Vagabundo, jogou o prato longe - ainda estava quentinho. Ele odeia rádio quando bebe. Ele vai me matar. Onde estão meus meninos? Onde me escondo?
24 setembro 2012
267/365
Fabrícia
Coisas que jamais fiz: nunca fui presa; nunca perdi oportunidades de emprego, mesmo que já estivesse empregada - mas isso me fez ter uma carreira irregular; nunca tive filhos; nunca disse eu te amo com sinceridade a ninguém; nunca assisti Lost; nunca consegui comprar um ventilador que desse conta do calor de Palmas; nunca fiz compras de supermercado sozinha; nunca fui traída; nunca aprendi a dançar salsa ou rumba; nunca ganhei honestamente uma partida de sinuca; nunca saí do Brasil; nunca joguei um jogo oficial de vôlei fora do banco de reservas; nunca preparei um jantar romântico pra ninguém; nunca recusei um convite para churrasco na laje; nunca comi jiló; nunca estudei o suficiente; nunca fiz jogo de sedução para um homem que eu achasse que valesse a pena; nunca encontrei um homem que valesse a pena.
Fabrícia
Coisas que jamais fiz: nunca fui presa; nunca perdi oportunidades de emprego, mesmo que já estivesse empregada - mas isso me fez ter uma carreira irregular; nunca tive filhos; nunca disse eu te amo com sinceridade a ninguém; nunca assisti Lost; nunca consegui comprar um ventilador que desse conta do calor de Palmas; nunca fiz compras de supermercado sozinha; nunca fui traída; nunca aprendi a dançar salsa ou rumba; nunca ganhei honestamente uma partida de sinuca; nunca saí do Brasil; nunca joguei um jogo oficial de vôlei fora do banco de reservas; nunca preparei um jantar romântico pra ninguém; nunca recusei um convite para churrasco na laje; nunca comi jiló; nunca estudei o suficiente; nunca fiz jogo de sedução para um homem que eu achasse que valesse a pena; nunca encontrei um homem que valesse a pena.
23 setembro 2012
266/365
Carolynne
Coisas que já fiz: papel de idiota total, esperando um namoradinho gringo na porta da casa dele, em Barcelona, para vê-lo sair com uma ruiva; papel de idiota total II, cantando num programa de TV, certa de que minha vocação era essa - e nunca foi; papel de idiota total III, comprando carnês vencidos ou fraudados do Silvio Santos de um falso ambulante na Sé; voei de asa delta; mochilei pela Europa; namorei um japonês pelo tempo exato necessário para aprender seu idioma; bordei toalhas com senhoras do Lar dos Velhinhos, em Brasília; sumi deste mundo por três meses; tive um filho; enterrei minha avó, que me criou; faculdade de Física, História, Matemática e Estatística - sem concluir nenhuma; tive outro filho; comprei uma casa em Madureira; casei; papel de idiota total IV - perdi a casa num jogo de azar; aprendi a dirigir.
Carolynne
Coisas que já fiz: papel de idiota total, esperando um namoradinho gringo na porta da casa dele, em Barcelona, para vê-lo sair com uma ruiva; papel de idiota total II, cantando num programa de TV, certa de que minha vocação era essa - e nunca foi; papel de idiota total III, comprando carnês vencidos ou fraudados do Silvio Santos de um falso ambulante na Sé; voei de asa delta; mochilei pela Europa; namorei um japonês pelo tempo exato necessário para aprender seu idioma; bordei toalhas com senhoras do Lar dos Velhinhos, em Brasília; sumi deste mundo por três meses; tive um filho; enterrei minha avó, que me criou; faculdade de Física, História, Matemática e Estatística - sem concluir nenhuma; tive outro filho; comprei uma casa em Madureira; casei; papel de idiota total IV - perdi a casa num jogo de azar; aprendi a dirigir.
22 setembro 2012
265/365
Vitória
E no decorrer da conversa descobriram-se, as três, mães solteiras. E entre as coincidências, dicas, sugestões e experiências trocadas, chegaram ao seguinte resultado sobre os respectivos pais: o da primeira era um crápula mercenário e pão duro, não pagava pensão, mas era presente na vida do menino, carinhoso, atencioso; o da segunda, pagava uma quantia mensal bem gorda, que a permitia trabalhar menos inclusive, mas não lembrava nem do aniversário da princesinha; o de Vitória, nem pensão, nem atenção. E assim a conversa se voltou para ela, um turbilhão de orientações para mudar a situação de modo inteligente e eficaz. Vitória sequer ouviu. Optara, há muitos, pela paz.
264/365
Aparecida
Casou-se virgem. Nos primeiros meses mentia para todos, contando, sem detalhes, as alegrias da vida a dois. Não sustentou a versão - a mãe e as primas já desconfiavam -, pois viu-se diante do inusitado diagóstico proferido por sua médica de confiança: alergia aguda a esperma. Ou ao menos ao esperma do amado, que nem se sabia mais amado, que nem sabia sentir vontade de ter relações com Cida. Os exames não puderam detectar outra coisa. Mas a médica a confortou: é apenas uma alergia. Não vai matar ninguém. Vida normal? Filhos? Talvez, se ela conseguir superar o medo da coceira. E se ele conseguir superar o medo da cara dela durante o ataque.
Vitória
E no decorrer da conversa descobriram-se, as três, mães solteiras. E entre as coincidências, dicas, sugestões e experiências trocadas, chegaram ao seguinte resultado sobre os respectivos pais: o da primeira era um crápula mercenário e pão duro, não pagava pensão, mas era presente na vida do menino, carinhoso, atencioso; o da segunda, pagava uma quantia mensal bem gorda, que a permitia trabalhar menos inclusive, mas não lembrava nem do aniversário da princesinha; o de Vitória, nem pensão, nem atenção. E assim a conversa se voltou para ela, um turbilhão de orientações para mudar a situação de modo inteligente e eficaz. Vitória sequer ouviu. Optara, há muitos, pela paz.
264/365
Aparecida
Casou-se virgem. Nos primeiros meses mentia para todos, contando, sem detalhes, as alegrias da vida a dois. Não sustentou a versão - a mãe e as primas já desconfiavam -, pois viu-se diante do inusitado diagóstico proferido por sua médica de confiança: alergia aguda a esperma. Ou ao menos ao esperma do amado, que nem se sabia mais amado, que nem sabia sentir vontade de ter relações com Cida. Os exames não puderam detectar outra coisa. Mas a médica a confortou: é apenas uma alergia. Não vai matar ninguém. Vida normal? Filhos? Talvez, se ela conseguir superar o medo da coceira. E se ele conseguir superar o medo da cara dela durante o ataque.
20 setembro 2012
19 setembro 2012
262/365
Nathaly
O equinócio estava próximo e algo no corpo dela dizia isso. Dor? Incômodo? Suspeitou de TPM, gravidez, climatério, o escambau, mas nunca do instante em que o Sol cruza o plano do equador celeste no ponto em que a eclípica cruza o equador celeste. Intuitivamente, procurou um astrólogo - que quis chamar de astrônomo por sua conta - e ele explicou: Nathaly era primaveril - em todo e qualquer sentido que a palavra possa receber. Não à toa, nasceu em um equinócio de setembro; não à toa, tinha um signo que variava de acordo com a vontade do horóscopo: virgem ou libra. Devia sentir-se bem entre os dois, misturando características e destino. Mas, apesar das descobertas, o algo estranho no corpo, motivador da visita, o astrólogo informou: eram gases, nada mais.
Nathaly
O equinócio estava próximo e algo no corpo dela dizia isso. Dor? Incômodo? Suspeitou de TPM, gravidez, climatério, o escambau, mas nunca do instante em que o Sol cruza o plano do equador celeste no ponto em que a eclípica cruza o equador celeste. Intuitivamente, procurou um astrólogo - que quis chamar de astrônomo por sua conta - e ele explicou: Nathaly era primaveril - em todo e qualquer sentido que a palavra possa receber. Não à toa, nasceu em um equinócio de setembro; não à toa, tinha um signo que variava de acordo com a vontade do horóscopo: virgem ou libra. Devia sentir-se bem entre os dois, misturando características e destino. Mas, apesar das descobertas, o algo estranho no corpo, motivador da visita, o astrólogo informou: eram gases, nada mais.
18 setembro 2012
261/365
Raquel
A moça perguntou quanto era o aluguel da mesa da Galinha Pintadinha. Eu disse R$ 150. Ela respondeu: "ótimo, quero alugar". Aí preenchemos os papéis e, aos poucos ela foi se irritando. Primeiro, quando informei que as toalhas e o cavalete não estavam inclusos e custavam R$ 40. Depois, o frete, R$ 30. Ela gritou que mora a menos de cem metros da loja. Então eu disse que era melhor ela vir buscar. Ela respirou fundo. Achei que ia ficar tudo bem, então informei que, caso o material voltasse sujo, a taxa de limpeza seria cobrada: R$ 30. Mas ela só começou a me agredir mesmo quando eu disse que, por conta da data da festa cair no fim de semana, o aluguel sairia R$ 20 mais caro.
Raquel
A moça perguntou quanto era o aluguel da mesa da Galinha Pintadinha. Eu disse R$ 150. Ela respondeu: "ótimo, quero alugar". Aí preenchemos os papéis e, aos poucos ela foi se irritando. Primeiro, quando informei que as toalhas e o cavalete não estavam inclusos e custavam R$ 40. Depois, o frete, R$ 30. Ela gritou que mora a menos de cem metros da loja. Então eu disse que era melhor ela vir buscar. Ela respirou fundo. Achei que ia ficar tudo bem, então informei que, caso o material voltasse sujo, a taxa de limpeza seria cobrada: R$ 30. Mas ela só começou a me agredir mesmo quando eu disse que, por conta da data da festa cair no fim de semana, o aluguel sairia R$ 20 mais caro.
17 setembro 2012
260/365
Marília
Sonhei com o crápula do Dirceu. Não adiantou acordar no meio da noite, respirar, fazer xixi e tomar água; o sonho continuou até as 7h, em sequência absurdamente clara. Conteúdo real, mas que nunca existiu. Estávamos juntos ainda, mas o sentimento da separação era óbvio. Ele me tratava como uma cachorra. Passava por mim, dentro da casa, com o único cuidado de não esbarrar. Eu o chamava, perguntava coisas, inclusive quis esclarecimentos sobre aquela situação - afinal, não tínhamos nos separado? Ele me ignorava. Parecia apenas tolerar a minha presença. Pouco depois, não estávamos sozinhos. Havia uma moça com quem ele conversava e falava sobre o trabalho e a casa. Com ela, consegui conversar, mas se recusou a me explicar qualquer coisa relacionada ao meu casamento com Dirceu. Comecei a ser tratada por ela como uma clandestina, às vezes efetivamente escondida. Ela me respondia tudo sobre a casa, o trabalho dos dois, os filhos (filhos?). Acordei justo quando presenciava um beijo deles. Apaixonado. É, caiu a ficha. Morri para Dirceu.
Marília
Sonhei com o crápula do Dirceu. Não adiantou acordar no meio da noite, respirar, fazer xixi e tomar água; o sonho continuou até as 7h, em sequência absurdamente clara. Conteúdo real, mas que nunca existiu. Estávamos juntos ainda, mas o sentimento da separação era óbvio. Ele me tratava como uma cachorra. Passava por mim, dentro da casa, com o único cuidado de não esbarrar. Eu o chamava, perguntava coisas, inclusive quis esclarecimentos sobre aquela situação - afinal, não tínhamos nos separado? Ele me ignorava. Parecia apenas tolerar a minha presença. Pouco depois, não estávamos sozinhos. Havia uma moça com quem ele conversava e falava sobre o trabalho e a casa. Com ela, consegui conversar, mas se recusou a me explicar qualquer coisa relacionada ao meu casamento com Dirceu. Comecei a ser tratada por ela como uma clandestina, às vezes efetivamente escondida. Ela me respondia tudo sobre a casa, o trabalho dos dois, os filhos (filhos?). Acordei justo quando presenciava um beijo deles. Apaixonado. É, caiu a ficha. Morri para Dirceu.
16 setembro 2012
259/365
Palmira
Me chamam de camela, pois sou a única a gostar da seca brasiliense. Nunca tomo muita água mesmo, meu corpo está adaptado. As roupas e as unhas secam logo, os cabelos ficam menos oleosos e até o porco do meu enteado, o Ismael, usa hidratante após o banho. Tenho disposição para lavar meu alpendre todos os domingos, durmo mais cedo e o silêncio é permanente em casa - as crianças economizam saliva. E o melhor: a minha sorveteria vira o sucesso do Gama.
Palmira
Me chamam de camela, pois sou a única a gostar da seca brasiliense. Nunca tomo muita água mesmo, meu corpo está adaptado. As roupas e as unhas secam logo, os cabelos ficam menos oleosos e até o porco do meu enteado, o Ismael, usa hidratante após o banho. Tenho disposição para lavar meu alpendre todos os domingos, durmo mais cedo e o silêncio é permanente em casa - as crianças economizam saliva. E o melhor: a minha sorveteria vira o sucesso do Gama.
15 setembro 2012
258/365
Noemia
Deitou-se no colo da vovó Noemia - aconchego garantido. Estava brava com a mãe, que a impedira de ver televisão. Ela não fez o dever. À avó não cabia sequer comentar a decisão da mãe. Bastava o silêncio habitual, o cafuné, o copão de café com leite. Noemia era avó das antigas. Apesar da cara esticada por botox e do corpo bem arrumado pela malhação diária, cheirava a flor, rezava toda noite e ensinara a neta a fazer biscoitos de povilho.
257/365
Aluísia
Entendeu que era hora de gritar, urrar. No entanto, comedida que é, optou por uma pergunta direcionada: quantas vezes mais vou ter que repetir que quero ser fútil às vezes? Do outro lado, a incompreensão de Hudson aumentava. Não entendia porque uma mulher inteligente e profissionalmente promissora - a sua futura esposa, afinal - se encantava com novela, programas de auditório, design kitsch, rap e bingo.
Noemia
Deitou-se no colo da vovó Noemia - aconchego garantido. Estava brava com a mãe, que a impedira de ver televisão. Ela não fez o dever. À avó não cabia sequer comentar a decisão da mãe. Bastava o silêncio habitual, o cafuné, o copão de café com leite. Noemia era avó das antigas. Apesar da cara esticada por botox e do corpo bem arrumado pela malhação diária, cheirava a flor, rezava toda noite e ensinara a neta a fazer biscoitos de povilho.
257/365
Aluísia
Entendeu que era hora de gritar, urrar. No entanto, comedida que é, optou por uma pergunta direcionada: quantas vezes mais vou ter que repetir que quero ser fútil às vezes? Do outro lado, a incompreensão de Hudson aumentava. Não entendia porque uma mulher inteligente e profissionalmente promissora - a sua futura esposa, afinal - se encantava com novela, programas de auditório, design kitsch, rap e bingo.
13 setembro 2012
12 setembro 2012
255/365
Lázara
Já estou malhando mais efetivamente. Notam-se músculos saltados nas minhas coxas, os braços mais definidos, barriga travada, bunda empinada. Sim, eu poderia ser uma mulher fruta. Os cabelos vou descolorir amanhã e, na terça, pego a roupa na costureira - a roupa do vídeo. Comprei vários shorts pequeninos. Exibo diariamente uma silhueta invejável, bronzeada e saudável. Simpatia? Na maioria dos dias, sim. Tranquei a faculdade de fisioterapia, que faço só para passar o tempo porque gosto de corpos. Sou oftalmologista (gosto de olhos também) e já pedi licença do hospital em que trabalho. Porque agora tenho apenas dois objetivos: passar na cara do César o que ele perdeu e entrar no Big Brother Brasil 13.
254/365
Janaína
Devia ser algo mágico, impossível de compreender com as partes do cérebro que resolvemos - humanos - desenvolver. Para lidar com qualquer um neste mundo, tudo normal. Para lidar com a professora, não. Ela entendia Janaína sem que esta precisasse ser muito específica ou detalhista ou objetiva. Uma falava e a outra completava, com raciocínio processado, solução e precisão. Haviam sido mãe e filha ou pai e filho ou pai e filha ou mãe e filho em uma vida passada. Ligação forte, fisiológica até. Nesta vida, encontraram-se pelo acaso da busca profissional de Janaína e pelo ofício de Jerusa. E se admiravam do que quiseram chamar de coincidências. Estão, neste instante, quase apaixonadas.
Lázara
Já estou malhando mais efetivamente. Notam-se músculos saltados nas minhas coxas, os braços mais definidos, barriga travada, bunda empinada. Sim, eu poderia ser uma mulher fruta. Os cabelos vou descolorir amanhã e, na terça, pego a roupa na costureira - a roupa do vídeo. Comprei vários shorts pequeninos. Exibo diariamente uma silhueta invejável, bronzeada e saudável. Simpatia? Na maioria dos dias, sim. Tranquei a faculdade de fisioterapia, que faço só para passar o tempo porque gosto de corpos. Sou oftalmologista (gosto de olhos também) e já pedi licença do hospital em que trabalho. Porque agora tenho apenas dois objetivos: passar na cara do César o que ele perdeu e entrar no Big Brother Brasil 13.
254/365
Janaína
Devia ser algo mágico, impossível de compreender com as partes do cérebro que resolvemos - humanos - desenvolver. Para lidar com qualquer um neste mundo, tudo normal. Para lidar com a professora, não. Ela entendia Janaína sem que esta precisasse ser muito específica ou detalhista ou objetiva. Uma falava e a outra completava, com raciocínio processado, solução e precisão. Haviam sido mãe e filha ou pai e filho ou pai e filha ou mãe e filho em uma vida passada. Ligação forte, fisiológica até. Nesta vida, encontraram-se pelo acaso da busca profissional de Janaína e pelo ofício de Jerusa. E se admiravam do que quiseram chamar de coincidências. Estão, neste instante, quase apaixonadas.
10 setembro 2012
253/365
Hélida
Portuguesa gélida. Mandou Amaral ao inferno logo no início da conversa. Não tem tempo a perder. Se algo dá sinais de problemas, lima. Amaral, doce, cometeu o pecado de pedir que ela telefonasse logo que chegasse em casa, para ele saber se tinha chegado bem. Hélida não enxerga boas intenções. Para ela, é tudo prático, reto, sem sonhos ou devaneios. Decidida.
Hélida
Portuguesa gélida. Mandou Amaral ao inferno logo no início da conversa. Não tem tempo a perder. Se algo dá sinais de problemas, lima. Amaral, doce, cometeu o pecado de pedir que ela telefonasse logo que chegasse em casa, para ele saber se tinha chegado bem. Hélida não enxerga boas intenções. Para ela, é tudo prático, reto, sem sonhos ou devaneios. Decidida.
09 setembro 2012
252/365
Fabiana
Mainha disse que fui insolente. Mas acabou que meu pequeno ato revolucionário não invalidou a benção do pastor. Revolucionário até que ponto? Eu não estava armada com o meu silêncio não. Até quis responder, mas não consegui. Foi anatomicamente impossível. Emudeci e meus lábios grudaram, ao mesmo tempo, sem premeditação. A repercussão, no entanto, foi terrível. Na minha amada igreja, fiquei conhecida como aquela que não disse amém quando convidada a confirmar que a mulher deve ser submissa, ajudadora do homem na sua missão na terra. O pastor nos casou, mesmo assim. Com Wanderson não falei a respeito, mas pude ver em seus olhos que ele aprovou minha afonez.
Fabiana
Mainha disse que fui insolente. Mas acabou que meu pequeno ato revolucionário não invalidou a benção do pastor. Revolucionário até que ponto? Eu não estava armada com o meu silêncio não. Até quis responder, mas não consegui. Foi anatomicamente impossível. Emudeci e meus lábios grudaram, ao mesmo tempo, sem premeditação. A repercussão, no entanto, foi terrível. Na minha amada igreja, fiquei conhecida como aquela que não disse amém quando convidada a confirmar que a mulher deve ser submissa, ajudadora do homem na sua missão na terra. O pastor nos casou, mesmo assim. Com Wanderson não falei a respeito, mas pude ver em seus olhos que ele aprovou minha afonez.
08 setembro 2012
251/365
Damiana
O cansaço, a semana cheia, a incompreensão me fizeram sentir dor de cabeça. A dor de cabeça me fez acordar impossibilitada de faxinar a casa da dona Yuki. A falta ao trabalho me fez não receber qualquer dinheiro para o fim de semana. Sem dinheiro, como comprar o presente e preparar uma festinha de aniversário para o Rico, meu amor? Sem presente e sem festinha, Rico se irrita e volta a especular se tenho um amante, pois não ligo pra ele e... o que eu fiz com o dinheiro? Com Rico irritado, sem amante, sem dinheiro. Que cansaço! A semana vai ser cheia de incompreensão e dor de cabeça.
Damiana
O cansaço, a semana cheia, a incompreensão me fizeram sentir dor de cabeça. A dor de cabeça me fez acordar impossibilitada de faxinar a casa da dona Yuki. A falta ao trabalho me fez não receber qualquer dinheiro para o fim de semana. Sem dinheiro, como comprar o presente e preparar uma festinha de aniversário para o Rico, meu amor? Sem presente e sem festinha, Rico se irrita e volta a especular se tenho um amante, pois não ligo pra ele e... o que eu fiz com o dinheiro? Com Rico irritado, sem amante, sem dinheiro. Que cansaço! A semana vai ser cheia de incompreensão e dor de cabeça.
07 setembro 2012
250/365
Bianca
Não entendo porque, nesta cidade, o nosso parece ser o salão menos frequentado. Nosso preço é bom, está na média. Tudo bem que não somos um poço de simpatia - e lá no Maranhão ninguém é -, mas eu e a Dionízia fazemos unha bem, minha cunhada depila bem e minhas irmãs são ótimas com penteados, escovas, hidratações, alisamentos, tinturas. Minha prima é a responsável pela maquiagem. Até concurso já ganhou. O que falta, então? Sorriso?
Bianca
Não entendo porque, nesta cidade, o nosso parece ser o salão menos frequentado. Nosso preço é bom, está na média. Tudo bem que não somos um poço de simpatia - e lá no Maranhão ninguém é -, mas eu e a Dionízia fazemos unha bem, minha cunhada depila bem e minhas irmãs são ótimas com penteados, escovas, hidratações, alisamentos, tinturas. Minha prima é a responsável pela maquiagem. Até concurso já ganhou. O que falta, então? Sorriso?
06 setembro 2012
05 setembro 2012
248/365
YaneEntão, por culpa, liguei para o Wilson e disse que estava com muita saudade. Ele foi afetuoso. O meu sentimento era sincero: naquele momento, eu era plena de saudades. Mas não de Wilson. Pela manhã, tive que vasculhar mensagens antigas para provar que havia entrado em contato com a minha operadora de celular dois anos antes informando um problema crônico. Evitavelmente – mas um impulso qualquer me fez querer –, comecei a reler e-mails do Jorge. Namoramos serenamente por oito meses e ele se mudou para outro país. Espirituoso, em uma das conversas que encontrei, ralhava comigo por eu ter lhe contado que conhecera Wilson: “como assim namorando? Nós nem terminamos”. Escolhia cada palavra, certo de que me faria rir e rir e rir. E, sim, eu ria e ria e ria. Jorge lia, pacientemente, meus contos e poemas e comentava com uma mistura de carinho, admiração e seriedade. Era um crítico literário consagrado no Brasil e eu me sentia envaidecida. Até hoje não tenho certeza se ele gostava mesmo do que eu lhe mostrava ou se apenas gostava de mim. Aos poucos, deixamos de trocar correspondências. E essa relação, que com a distância se converteu em amena amizade, perdeu-se. Não sei mais dele. E é evidente que não encontrei o e-mail sobre problemas com o celular.
04 setembro 2012
247/365
Waldirene
Veio de baixo, do Baixo Xingu. Tecnologizou-se, urbana reprimida que sempre foi. Gosta de notebooks, celulares, tablets, redes sociais, blogs, emails. Gosta de dar ordens. No princípio, encantava-se com tudo, deslumbrada e alegre. Agora, entedia-se. Quando recebe mensagens com a palavra "novidade" no assunto, escolhe entre deletar e deixar para ler muitos dias depois. Dos jornais on line vê as manchetes, especial demais que é para perder tempo com isso. Gestora, impositiva e esperta, antenada. Está à frente e acima. Passado? Que passado?
Waldirene
Veio de baixo, do Baixo Xingu. Tecnologizou-se, urbana reprimida que sempre foi. Gosta de notebooks, celulares, tablets, redes sociais, blogs, emails. Gosta de dar ordens. No princípio, encantava-se com tudo, deslumbrada e alegre. Agora, entedia-se. Quando recebe mensagens com a palavra "novidade" no assunto, escolhe entre deletar e deixar para ler muitos dias depois. Dos jornais on line vê as manchetes, especial demais que é para perder tempo com isso. Gestora, impositiva e esperta, antenada. Está à frente e acima. Passado? Que passado?
03 setembro 2012
246/365
Hilda
02 setembro 2012
245/365
Ully
Uma vez Fl... não é fácil completar essa máxima no estado em que o meu mengão se encontra. Hoje, perdeu de novo. Sinto raiva. Dá vontade de torcer pra qualquer outra porcaria. Porra, sou vítima de chacota, bullying. Mas torcer pelo rubronegro não é decisão. Não é nem mesmo paixão. É compromisso. Sempre Flamengo. Sempre Flamengo. Sempre Flamengo.
Ully
Uma vez Fl... não é fácil completar essa máxima no estado em que o meu mengão se encontra. Hoje, perdeu de novo. Sinto raiva. Dá vontade de torcer pra qualquer outra porcaria. Porra, sou vítima de chacota, bullying. Mas torcer pelo rubronegro não é decisão. Não é nem mesmo paixão. É compromisso. Sempre Flamengo. Sempre Flamengo. Sempre Flamengo.
244/365
Sandra
Era bem possível que, vivendo no Parque São José, sofresse com o calor e a seca, atípicos da capital. Eram dois ônibus até a casa da patroa, Marilu, de segunda a sábado. Era uma vida dura. Os domingos reservava para duas devoções: a igreja e o futebol. Perdeu o último jogo, sexta passada, contra o Guaratinguetá. Empate. Neste 2012, reservava os domingos para louvar Jesus e chorar pelo Ceará. Na casinha pequena, no quarto que dividia com a irmã, na cama de solteiro, com colchão fino e madeira escura, amassava o recorte de jornal com os resultados da série B. Lhe agoniava o estado estanque e pouco empolgante em que o vozão se encontrava.
Sandra
Era bem possível que, vivendo no Parque São José, sofresse com o calor e a seca, atípicos da capital. Eram dois ônibus até a casa da patroa, Marilu, de segunda a sábado. Era uma vida dura. Os domingos reservava para duas devoções: a igreja e o futebol. Perdeu o último jogo, sexta passada, contra o Guaratinguetá. Empate. Neste 2012, reservava os domingos para louvar Jesus e chorar pelo Ceará. Na casinha pequena, no quarto que dividia com a irmã, na cama de solteiro, com colchão fino e madeira escura, amassava o recorte de jornal com os resultados da série B. Lhe agoniava o estado estanque e pouco empolgante em que o vozão se encontrava.
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