26 setembro 2012

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Leandra

Tenho nome de atriz famosa, vinte anos mais jovem do que eu, mas sou um trapo humano. Minha pele tem cor de poluição; meu hálito e minhas secreções têm mais germes, vírus e bactérias do que qualquer pessoa com higiene duvidosa. Eu não tenho higiene alguma. Morar mora-se em casa, com banheiro, água encanada, esgoto. Ou nem isso, se for uma fazenda, mas se tem família ou um fogão à lenha, pelo menos. Na rua não se mora: se dorme, se come, se perambula, se droga, se rouba, se cansa, se esquece que é gente. Não me lembro do cheiro de um banheiro limpo. Do meu passado, só tenho o nome: Leandra. Não aceito apelido.


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Jandira

Suor. Carlos chegou. Raspei a periquita e fiz feijão gordo. Ele gosta. Botei o Julião, o Carlos Jr, o Frederico e o Riquelme pra dormir na vizinha. Passei o perfume que ele adora. Sintonizei, baixinho, uma rádio romântica. Carlos chegou. Cachaça. Não, isso não vai prestar. Vagabundo, jogou o prato longe - ainda estava quentinho. Ele odeia rádio quando bebe. Ele vai me matar. Onde estão meus meninos? Onde me escondo?

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