21 dezembro 2012

355/365
Augusta

Não me respeitam. Desde que estou presa a esta cadeira, não opino, não me ouvem, não decido no que gastar nem mesmo o dinheiro da minha pensão. Fazem procedimentos de higiene quando bem entendem. Passeios com banho de sol quando lembram. Talvez já tenha completado uma semana aqui, trancafiada. Comida nos horários convenientes. Se manifesto fome, dizem que devo esperar um pouco. Fazem conchavo, já os peguei cochichando. Ratos.

354/364
Eva

Me dê um dinheiro? Então algo pra comer? A senhora viu que eu nem tenho chinelo? Não se importa, né? Também nesse carrão, né? É bom ser rica? Isso aí é um ipad? A senhora não deixa eu mexer, né? Nem adianta pedir, né? Não tem nem um biscoito?

353/365
Valda

Deu queixa e entrou no programa de proteção da Maria da Penha. Trocou de telefone, largou apartamento, pai e mãe. O nome está em processo de mudança: talvez Kátia, talvez Narilu, talvez Telma. Pediu sigilo na transferência na CAIXA e foi trabalhar na agência Chico Mendes, um barco-banco, no Amazonas. A situação crítica provocava nela uma sensação que ela conceituou como adrenalínica, que misturava medo e excitação. Sim, era estudiosa, teórica. E, sim, estava, enfim, no centro das atenções de muita gente, apesar de clandestina.

Nenhum comentário: