08 abril 2014

Ana

Pelo retrovisor, viu que Ana olhava descompromissada para a esquerda,
o pôr-do-sol. Não podia ser ela, aos poucos obtinha a resposta de que
vinha fugindo: não podia ser ela. Jovem demais. Mas era também bonita
demais, esperta e melancólica. Tinha boas respostas para muitas
perguntas; e excelentes perguntas para ele, seu mestre, seu mentor.
Não podia ser, podia? Questionou o passado dela, da mãe dela:
costumava vir a Brasília? E diante do "sim, sim, sim", engolia uma
saliva gélida, enquanto a moça completava, com a inocência que a
situação permitia: "vivia aqui, hospedada na casa da tia Lúcia, no
Cruzeiro". Era ela sim, ainda que não pudesse ser. Chegou até a
lembrar de tia Lúcia e das assadeiras de pão de queijo. E deve ter
dito algo, pois uma boa pergunta surgiu: "como sabe?"






















#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto

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