26 abril 2014


Luiz

Na sala de TV com a esposa e os quatro filhos, muitos anos depois, Luiz sentiu o cheiro de Arnold. Com um vento que veio do corredor, sabe-se lá, ou uma mistura da pipoca com o tapete empoeirado. Mas era o cheiro de Arnold. O cheiro fugidio e grosseiro do amigo. Despregou-se do filme para visitar suas lembranças. Faculdade de Direito, formatura, escritório e o futuro que não aconteceu. Como teria sido? O que teriam vivido se não tivessem vivido aquela discussão idiota? Amava Lidu e os meninos, todos eles, mas não queria Santos todos os verões e não queria o escritório na Paulista. Não se sentia homem o bastante. Sentia falta de Arnold e vontade de dormir. Lidu lhe tocou o ombro e, próxima ao seu ouvido, sussurrou algo sobre o vestido da personagem. Respondeu com "uhum" habitual.

#reveza2x2 - ilustração de Solange Pereira Pinto - conto de Liana Aragão

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