14 janeiro 2014


Damião

“A gente não sabe mesmo, nunca, com o que vai se deparar”, filosofava Damião ao limpar a bancada. Até aquela hora – e não havia dormido – não sabia bem o que fazer com as pedras que encontrara. Na internet procurou notícia de algum roubo a banco ou casa de gente muito rica. Não eram joias roubadas, concluíra. O primo do vizinho de seu cunhado certa vez dissera que a gente é responsável pelo que cativa. Frase que soava tão óbvia quanto confusa. Agora sentia-se assim, simplesmente, responsável pelas pedras que encontrara num matagal da Maraponga e nada mais. Seguiria paulistano, 37 anos, negro, gordo e porteiro noturno do Edifício Cidade, o maior de Fortaleza. 

                                                   #reveza2x2 - ilustração de Solange Pereira Pinto - conto de Liana Aragão

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