07 janeiro 2014

Maldonado Silva, descansado

Fora estagiário de almoxarifado numa fábrica de remédio em Anápolis, mas nunca se interessou por saber nada além do que lhe cabia: prateleira dos papéis de uso, caixa dos copos descartáveis, gaveta de extensões, plugues e tomadas. Seu sonho era ser segurança, mas não sabia onde arrumar tempo e dinheiro pra um curso no SENAC. Era certo que o achavam grande e brigão. Mas se sabia amável e preguiçoso. Mal acordava, a vontade era almoçar e ver desenho. Meninão da mamãe, mas a velha já tinha morrido. A casa quitada acumulava os IPTUs e outras contas. Escolhia o que pagar, às vezes. Durava três meses de zelador no prédio do bairro mais chique, dois de empacotador no mercadinho, quase cinco como atendente de loja de pneu: boa tarde, pneus novos à direita, recauchutados à esquerda, banheiros ali atrás, caixas logo após aquele armário, peças não, só na loja do seu Teodoro, ali em frente, obrigado pela preferência, volte sempre. Voltava pra casa, pras contas, pra preguiça. Economizava as altas calorias ingeridas com coca cola e sorvete. Via propaganda do SENAC na TV. Mudava o canal.


#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto

Um comentário:

Lorena Sales dos Santos disse...

Você alcança bem os Maldonados por aí!