13 março 2012

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Emília

13 de abril de 2012 - Pronto. Marquei uma data. Daqui a um mês, vou largar para sempre o cigarro. Motivo: saúde. Exclusivamente, pois tenho um tumor nas cordas vocais em pleno (e célere) desenvolvimento por conta desse conceito/objeto, que já foi minha comida, meu charme, minha muleta. Mas não estou feliz e vou registrar, neste meu diário fiel, a minha profunda indignação: dezoito anos atrás, quando pus o meu primeiro cigarro na boca, fui uma jovem ousadinha, inteligente, boêmia e extremamente sensual. Nos bares, à espera de um amigo ou amante, cruzava as pernas e acendia um free. Um movimento de cabeça fazia com que os cabelos ganhassem volume, o olhar focava desfocado o horizonte. Eu era um desenho vivo do objeto de desejo de homens e de admiração das mulheres. “Tem fogo?”, pediam. “Fogo?”, ofereciam.

O cigarro era o começo de uma amizade ou de uma bela trepada.

Hoje, sem que precisem me abordar, me sinto invadida. Me olham com asco. Isso acaba com o meu humor. Já até me xingaram no trânsito, às 7h da manhã: “nojenta, apaga essa porra. Tu vai morrer”. Ele também vai, não vai? Não pratico esportes, bebo, cheiro mal. Sou, hoje, o antissímbolo do que fui. E mais: existe uma bosta de conspiração social, com médicos, dentistas, opinião pública, imprensa na luta contra o cigarro. Saco! Dois maços por dia – cada um com figuras assombrosas, para as quais olho com uma curiosidade mórbida. Mais um mês. Até lá, espero não falecer e me acostumar com a ideia.

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