23 março 2012

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Madalena

Naquele dia acordei inquieta, lavei as vasilhas e arrastei a estante. Algo estava pra acontecer. Apertei meus seios, como se abraçasse eu mesma, andando dum lado pra outro. Uma angústia aqui, ave. Telefonei pros meus filhos e pra minha irmã; todos bem. Voltei pra lida, porque podia ser simplesmente um objeto na minha casa impedindo o fluxo e eu sentindo isso tudo. Mexi, revirei, reorganizei e a notícia chegou, como sempre chega. Era o Eraldo, pai dos meus filhos e amor da minha vida. Já não estávamos juntos há tantos anos, mas parece que o coração não raciocina. E foi a piranha que veio me contar: olha, Madá, o Eraldo morreu, mulher. E eu me esforcei pra não parecer incomodada e não tinha jeito e não teve jeito: ela viu o desespero saindo pela minha garganta, o choro caindo em litros. Peguei em tudo que é vassoura e rodo, tentando voltar ao trabalho e eliminar esse sofrimento. A dor não passou.

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Zaynah

Não quero meu corpo à mostra, não vendo minha imagem a revistas ou simplesmente ofereço aos olhares cobiçadores dos homens. Sem lenço não saio. Não interessa onde estamos. Assim, minha mãe me ensinou, como a mãe dela a ensinou e a mãe de sua mãe. O véu não tem a ver com os costumes de um país ou povo, mas com proteção, devoção, compromisso, amor. Já passamos por Paris, Cuba, Buenos Aires e, agora, Brasília. Em cada um desses lugares, o olhar ocidental se repetiu. Isso não tem importância, pois, também na nossa crença, não precisamos nos misturar com outras pessoas. Basta conhecer e respeitar. Meu hijab é protetor e vai cobrir a minha filha e a filha de minha filha e assim por diante. Sem que nenhuma de nós tenha que se confundir com bobagens como a exibição provocadora.

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