14 março 2012

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Andréia

As coisas não vão mudar. Quando ingressei no magistério, existia esperança e eu mesma tinha certeza de que faria a diferença, educaria crianças e jovens, construiríamos um país melhor. Quase conseguia, no silencioso caminho da escola, ouvir gritos de incentivo e me segurava para não ceder à tentação de lançar socos no ar, motivadíssima. Não demorou para eu me ver envolvida com discursos sindicais, replicados por colegas estressados e mal remunerados. Não demorei a me render às licenças emendadas – LER, depressão, estafa, dores de coluna e cabeça, alergia respiratória. Não demorou para me transferirem para uma atividade burocrática. Adeus às salas de aula, aos alunos estranhos – insetos – e à encheção de saco por coordenadores, diretores. Ponto, provas, chamadas, giz – adeus. Agora, uma greve safada. Ajustes safados que sequer saem do papel – R$ 1.450 mensais por 40 horas semanais. Acompanho tudo pela TV, tomando sorvete em cima do muro. Tão distante quanto eu conseguir.

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