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Martina
Resolveu cavucar o passado. Reservou o domingo para tirar a poeira de velhas caixas, reler antigas cartas, ver fotos amareladas. Sim, esse movimento lhe era especial e ela permitiu, falsa concessora que é, que lágrimas caíssem dos olhos ainda com poucas rugas para a idade. Manchas nas mãos ainda não havia, mas tinha a alma marcada, um passado com dias bons e anos ruins, doídos. Amados mortos, desilusões, caminhos profissionais não finalizados, tudo disfarçadamente refletido em roupas escuras e face amarrada, sem riso. Mesmo assim, cavucar coisas velhas lhe proporcionava o prazer que já não acessava pela cidade, com amigos ou supostas diversões.
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