01 janeiro 2014


Isaias de Araxá

Mandaram buscar o araponga em Betim e diz que é formado em Viçosa. Doutor em construção civil. Mas, oh Jorge, – as mãos viradas, não entendia – precisava, hein, Jorge? Ontem o Ciro veio me perguntar se eu tava pensando em aposentar. Vê se tem cabimento o negão aqui parar o serviço, hein, Jorge? – Jorge ri – E eu ri do Ciro também, Jorge. Tá doido, Ciro? Tenho força pra anos e anos ainda, Ciro. Cê é besta, parece que não me conhece. E o araponga arrumadinho vai fazer o quê em obra? Diz que usa até perfume, hein? – Jorge ri – É coisa demais pra minha cabeça. Eu ando é a pé daqui pra Betim. Olha – e bate no bíceps que é forte ainda, mas já denuncia os setenta e poucos –, sou um touro, Jorge, um touro. Nem gripe eu pego. – Funga. Jorge se contém. Do rosto de Isaias vê uma lágrima pingar o ombro. Vira pro outro lado. Amarra a vasilha vazia e suja, com a colher dentro.


#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto

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