17 janeiro 2014

Lisbela



A voz era grave demais para pronunciar o próprio nome. Dezessete anos, magra, gigolete pink, blusa de listrinhas cor de rosa, melissa. Os pêlos do rosto, do peito, das pernas arrancava com ódio. Os seios eram um sutiã de enchimento, até quando tivesse dinheiro pra silicone de clínica. Cuidadosa, metódica. Os cabelos lisos eram milimetricamente organizados. Nos lábios, um batom quase imperceptível. Delicado, não queria chamar atenção. Soletrou Lisbela à atendente, que a olhava atenta, sem brilho ou compaixão. Curiosidade, talvez. E a jovem foi altiva, o nariz empinado sobre o bigode raspado: falou o endereço, o telefone, o nome da mãe, do pai, o RG e o signo. Virgem.


                                                    #reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto

Um comentário:

Lorena Santos disse...

Gostei da Lisbela. Quase posso vë-la!Perguntinha: Delicado é o batom? Ou é ela?