25 março 2014

Chata Maonela


O riso de Manoela era assim, largo, radiante, chato, incômodo e parecia exagerado, sempre. Porque quando ria eu não via qualquer graça na piada ou situação. Peguei abuso de Manoela antes mesmo de ela abrir a boca para dizer "prazer, Manoela". Prima do meu melhor amigo, queridíssima da família, bonita e boa anfitriã. Era jovem e marceneira - já pensou? - e eu achei isso interessantíssimo. Mas, céus, como era chata. Todos a adoravam. Oferecia bons vinhos e quitutes que ela mesma fazia. Decorara um ap bacaninha e agradável. Dava caronas, emprestava dinheiro, fazia trabalhos sociais, era preocupada com o meio ambiente, focada, competente, elegante, cheirosa, sem preconceitos ou vícios. Um abuso de pessoa, impertinente e enjoativa. E os amigos me empurrando pra ela. Cansei de Maonela a ponto de querer deixa-la falando sozinha ou segurando sozinha o seu copo com dedos alongados e unhas verdes, de modo sexy. Assim, bem chata e insuportável. Sozinha, porque não me merece.


#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto

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