Chata Maonela
O riso de Manoela era assim, largo, radiante, chato, incômodo
e parecia exagerado, sempre. Porque quando ria eu não via qualquer graça
na piada ou situação. Peguei abuso de Manoela antes mesmo de ela abrir a
boca para dizer "prazer, Manoela". Prima do meu melhor amigo, queridíssima
da família, bonita e boa anfitriã. Era jovem e marceneira - já pensou? -
e eu achei isso interessantíssimo. Mas, céus, como era chata. Todos a
adoravam. Oferecia bons vinhos e quitutes que ela mesma fazia. Decorara
um ap bacaninha e agradável. Dava caronas, emprestava dinheiro, fazia
trabalhos sociais, era preocupada com o meio ambiente, focada,
competente, elegante, cheirosa, sem preconceitos ou vícios. Um abuso de
pessoa, impertinente e enjoativa. E os amigos me empurrando pra ela.
Cansei de Maonela a ponto de querer deixa-la falando sozinha ou
segurando sozinha o seu copo com dedos alongados e unhas verdes, de modo
sexy. Assim, bem chata e insuportável. Sozinha, porque não me merece.
#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto
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