Nasceu em Nova Viçosa em data diferente do que diziam seus papéis. Infância de ajudar o pai no roçado, cuidar dos irmãos mais novos e rezar. Na adolescência, conheceu Idalina, que subia nas árvores como soim, chupava manga trepada nas galhas mais inalcançáveis e apanhava do pai como um menino. Quis levá-la. Ergueu um casebre no terreno do pai, bem perto da mangueira, plantou milho, feijão e mandioca. Chupou Idalina inteira. Fiapo nos dentes. Casaram na igreja, com missa e festa. Tiveram três meninas e Idalina morreu, numa noite estranha, com febre e vômito preto. Com raiva de deus, derrubou a mangueira, trancou a casa e entregou as filhas pras madrinhas. Na rodoviária, diante dos carros e buzinas e cores confusas de Salvador, se viu só. Trabalhou. Conheceu Rosana, cujo beijo lembrou o gosto de manga da boca de Idalina.
#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto
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