18 março 2014

Samurai

Sob ipês floridos em Brasília, e como tivesse comigo qualquer intimidade, me contou que seu sonho era transar com um samurai. Não um cara fantasiado, como fetiche ou montagem mal acabada de produtos de sex shop. Não. Ela queria um samurai real. Um super homem que, em seu devaneio, além de mascarado, fosse ágil, impávido, frio, objetivo. E, ainda assim, capaz de proporcionar prazer tântrico, como se ela soubesse o que é isso. Queria olhos orientais em moldura de pano preto, sem roupa e com decisão. Ou raiva, até. O cabo da katana à mostra, pescoço rijo. Contou sem motivo ou como se eu conhecesse meia dúzias de caras nessas condições, digamos, profissionais. Imagino que se via sob cerejeiras. Contou como se fosse eu um amigo ou um desconhecido realizador de sonhos.



#reveza2x2 - conto de Liana Aragão - ilustração de Solange Pereira Pinto

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