18 janeiro 2012


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Claudia

Não tinha papas na língua. E queria parecer não ter. Queria ser respeitada, temida. Desafiava. Apostava seu cargo de confiança, seu status. Falava mal da empresa e de seus superiores. “Você viu, Lu, que o chefe conversou por horas com a Vick ontem, na confraternização?” – alfinetava. “Vi, Claudia, mas não enxergo mal nenhum nisso”. Balançava a cabeça: “ai, Lu, como você é ingênua. A prova é cabal, querida: hoje ele chegou sério, sisudo. E sabe o que é isso?”. Lu esperava a resposta maliciosa, quase incrédula. “Ressaca moral” – e aguardava os olhos arregalados de Lu –. “É um filho da puta como outro qualquer”. Sabia que a Lu se mordia de ódio. Não pelos impropérios lançados a um homem aparentemente honesto, mas porque ela, Claudia, pra arrematar, agia como se fosse a dona do setor. “E, Lu, antes que eu esqueça, querida, estou esperando o relatório”.

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