02 fevereiro 2012

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Iara

Não me conformo com tanta gente reclamando da vida. Difícil é ser sereia nos dias atuais. Sair cedo do mar, pra não ser vista, apesar de querer dormir mais ou fazer hora na cama, ver um programa educativo às 6h da manhã. Esperar o rabo desaparecer, tomar banho de água doce pra tirar o cheiro de mar, passar muitos cremes, vestir uniforme, meia calça, sapato, escovar os longos cabelos e os dentes, usar perfume. Pegar ônibus, enfrentar um trânsito infernal até o Centro, caminhar rumo ao escritório. Às vezes, os colegas fazem questão de não responder ao meu “bom dia” – eu chego cheia de alegria, apesar de tudo. É terrível. E não é exatamente prazeroso receber representantes de empresas, arquivar documentos, atender telefone, ir ao banco, almoçar, voltar, trabalhar mais um pouco. Mas chega o fim da tarde. Recuso eventuais convites para um chope. Troco de roupa, dou uma corridinha na praia. Me dispo, coloco meu colar de pérolas e me despeço do sol, da areia. De joelhos, agradeço: odoyá, minha mãe. Olho em volta, não vem ninguém, mergulho. A caminho de minha casa, nado feliz e rapidamente para não perder a novela.

2 comentários:

Manoel Rodrigues disse...

Iara à tona, em surto, na maratona do conto curto...

Lorena Fabricio disse...

Que lindo! Todo o mundo tem um dia de Iara.