28 fevereiro 2012

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Alice

No buço, pequenas gotas. Quando dava uma pausa no falatório, soprava na direção dos seios e me ouvia com toda a sua atenção. Prendeu os longos cabelos, molhados de suor, com dois grampos. As axilas também estavam úmidas. Era apaixonante vê-la falar de si e de sua vida natureba, coisa que nunca me interessou. Perto dela, eu esquecia carne e refrigerante e chegava a ter desejo de provar aveia, leite de soja, biscoitos de chuchu. Virava o rosto, alongava o pescoço. Esguia, iogue. Senti vontade de tocar aquela nuca. Beijar. Lamber o suor. Mas Alice não era uma mulher. Era uma fonte, uma entrevistada, um ícone. Em casa, demorei a conseguir escrever de modo isento, neutro. E passei a sonhar com aquela tarde todas as noites. E para sempre.

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