01 fevereiro 2012

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Cecília

Pedante e orgulhosa. Lançava suas ordens à rua, porque empregados não tinha há muito tempo. Ela mesma lavava as camisolas de seda à mão. Usava as peças o dia inteiro. O mato à frente do casarão crescia e a pintura da fachada descascava. Rude, fingia para si que relia os clássicos. Um a um, retirava-os da biblioteca, soprava o pó e folheava. Enchia de água da torneira uma taça de champanhe. Quando aparecia algum dinheiro, comprava uvas, cerejas. Os parentes ajudavam como podiam. Almas boas que eram, relevaram rapidamente os coices que Cecília distribuiu por anos e anos e levavam frutas, pães, material de limpeza e higiene. Ela os recebia com indiferença. Vez por outra, pagavam uma conta. Puxavam assunto e eram brindados com a ausência da austera falida. Cecília definhava. Logo morreria, certamente. Mas, orgulhosa e pedante, jamais sairia de seu palacete decadente ou de seu imaginário pedestal.

Um comentário:

Manoel Rodrigues disse...

Na ilha, a Cecília.