17 fevereiro 2012

48/365
Dália

Era lindo – duas covinhas no rosto, ao sorrir. E eu sorria. Gargalhava. Duas covas. Eu e meu amor. Tudo pago, porque a família, apesar de ser família, não tem nada com isso. Canto direito do cemitério sem canto, espiralado. Onde se vê o pôr do sol. Sou romântica, sempre fui. Por isso vacilo. Parece que careço de coragem pra apertar o gatilho. O filho da puta eu já matei. Sobra apreço, medo, autoestima. Falta dar cabo de mim.


47/365
Cristina
 
Anunciava pelo megafone: “este carnaval será diferente, pessoal. Vamos ajudar a salvar as nossas crianças!” Era o mesmo anúncio de todo ano e a comunidade se perguntava o que seria diferente, afinal. Mas ajudava. Um doava chuchus, outro cenouras, macarrão, costelinha, batata, couve. A sopa das crianças que vagavam pela Sé era o que dava sentido ao carnaval de Cristina. Ela mesma mexia o panelão, arrumava tudo, dirigia a kombi e a equipe de distribuição. Na madrugada, enquanto se viam foliões bêbados e desorganizados voltando dos barracões para casa, ela abordava meninos e meninas na praça. Oferecia sopa e amor.

Um comentário:

Manoel Rodrigues disse...

tem dó, Dália! cristã, a Cristina!