30 novembro 2012

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Morena

Gosta de vender sapatos, principalmente os mais fechados e escuros. Sandálias não caem bem em moças como ela. Usa invariavelmente saias que colam um joelho ao outro e blusas que tampam os ombros. Ao fim do dia, tem as coxas assadas e axilas mal cheirosas. Preparou-se para o fim de semana do louvor, sondou sobre o ônibus até a Esplanada, perguntou quem da igreja estaria lá. Mas ontem à noite o gerente avisou: "não vai ter feriado pra gente não. O Natal está chegando e temos que vender mais". Triste de ter que trabalhar no seu dia, tudo lhe parecia ruim. Com ironia, até o número de mulheres desvirtuosas procurando saltos coloridos aumentou.

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Ignês

É gari há doze anos na linda Curitiba. Cuida da mãe Guilhermina e da tia Felícia. As senhorinhas vivem brigando entre si e lhe torrando a paciência: vai arrumar um marido bom, Ignês. E ela queria mesmo era voltar a estudar para ver se passa no concurso da prefeitura. Dessa vez, para trabalhar em escritório; a rua lhe cansa. Vlado, corretor de imóveis, anda lhe rondando. Já pagou um café a ela só para dizer o quanto têm em comum. Coisa que ela não enxerga e não quer.

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