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Margarida
Na minha cidade, conto nos dedos quem não
mexe com flores. Todos
mexem, mesmo indiretamente. Até as putas, que atendem produtores,
vendedores,
adubadores. O dinheiro cheiroso de rosas, violetas, tulipas,
copos-de-leite
circulam pela cidade. Contudo a Margarida, minha cunhada, é caso raro.
Produz
sabonetes, mas com essências que vêm da Europa. E é pra lá que ela manda
a
produção. Exportadora. Os recursos dela até passeiam em Holambra e,
imagino, eventualmente
compram um vasinho de crisântemos, mas não têm grande participação nessa
economia. No entanto, não é por isso que Margarida virou ídola das moças
da
cidade: num lugar poético, colorido, encantador, a incansável abelha
rainha dá
pra outros homens, além do meu irmão. E todos sabem disso, menos o tonto
do zangão.
A mulherada da família aplaude, acha que Margarida é o suprassumo da
coragem e
do desprendimento. Mês que vem, a aboletada heroína vai parir um menino.
E só
deus sabe de quem será.
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