24 abril 2012

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Margarida

Na minha cidade, conto nos dedos quem não mexe com flores. Todos mexem, mesmo indiretamente. Até as putas, que atendem produtores, vendedores, adubadores. O dinheiro cheiroso de rosas, violetas, tulipas, copos-de-leite circulam pela cidade. Contudo a Margarida, minha cunhada, é caso raro. Produz sabonetes, mas com essências que vêm da Europa. E é pra lá que ela manda a produção. Exportadora. Os recursos dela até passeiam em Holambra e, imagino, eventualmente compram um vasinho de crisântemos, mas não têm grande participação nessa economia. No entanto, não é por isso que Margarida virou ídola das moças da cidade: num lugar poético, colorido, encantador, a incansável abelha rainha dá pra outros homens, além do meu irmão. E todos sabem disso, menos o tonto do zangão. A mulherada da família aplaude, acha que Margarida é o suprassumo da coragem e do desprendimento. Mês que vem, a aboletada heroína vai parir um menino. E só deus sabe de quem será.

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