01 abril 2012

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Hélia II

Resolveu ir à pé, sozinha. A noite estava quase tão quente quanto o dia. Vestia saia, blusa, sandálias. O medo e a quase certeza de que algo aconteceria lhe proporcionavam um prazer estranho. O coração disparava, sentia os ossos esfriarem. Era como quando, criança, decidia fazer algo proibido sabendo que seria castigada pelo pai. Era um arcar com um risco. Alto risco. Sabor de coragem. Não desejava que algo de ruim lhe acontecesse - aquilo não era um suicídio - e se sentia imensamente grata a deus quando chegava a salvo em casa. Cruzou a orla leste da cidade, com alguns tropeços, um salto muito gasto e nada mais. Bêbados, travestis, grupos suspeitos. Passou pela alfândega, o cais do porto, o Mucuripe e toda a Beira Mar até depois da Monsenhor Tabosa. Subiu no ônibus ofegante, respirou fundo e sorriu aliviada.

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