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Maria João
Não poderia ter tido outro nome. Durante a
gravidez, foi “o
João da mamãe”. E, mesmo depois de nascida, com a demora do registro, a
mãe
se dirigia a ela como João, longe de possíveis olhares censores. Diante
dos avós:
“ainda não sei que nome vou dar à menina”. Exprimia, numa tentativa
ineficaz de demonstrar alegria, decepção. Não queria uma garota. E Maria
João
cresceu sob os carinhos aborrecidos da mãe, aprendendo a se expressar
com
falsidade. Para agradar a mãe, vestia-se de modo masculinizado, mantinha
o
cabelo curto e tentou a carreira de jogadora de futebol, mas não tinha
talento.
Fez vestibular para educação física, mas não passou. Quando a mãe
morreu,
morreu com ela a culpa de Maria João. Comprou vestidos e maquiagem e
resolveu
fazer o que sabia bem: virou atriz de teatro amador e matriculou-se em
balé clássico. Só não pôde deixar de lado o conforto das cuecas.
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