30 abril 2012

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Maria João

Não poderia ter tido outro nome. Durante a gravidez, foi “o João da mamãe”. E, mesmo depois de nascida, com a demora do registro, a mãe se dirigia a ela como João, longe de possíveis olhares censores. Diante dos avós: “ainda não sei que nome vou dar à menina”. Exprimia, numa tentativa ineficaz de demonstrar alegria, decepção. Não queria uma garota. E Maria João cresceu sob os carinhos aborrecidos da mãe, aprendendo a se expressar com falsidade. Para agradar a mãe, vestia-se de modo masculinizado, mantinha o cabelo curto e tentou a carreira de jogadora de futebol, mas não tinha talento. Fez vestibular para educação física, mas não passou. Quando a mãe morreu, morreu com ela a culpa de Maria João. Comprou vestidos e maquiagem e resolveu fazer o que sabia bem: virou atriz de teatro amador e matriculou-se em balé clássico. Só não pôde deixar de lado o conforto das cuecas.

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